Por Walter Biancardine (*)
Já sofri por amores perdidos, amizades desfeitas ou mesmo planos não realizados, mas, atualmente, dedico meu lado masoquista a gemer por ter sido enganado, durante décadas de minha vida, por uma grande mídia compulsivamente mentirosa, traiçoeira e que, mais que distorcer fatos, por vezes os inventa para melhor azucrinar seus desafetos – no caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Saiu no jornal O Globo de hoje, em escandalosa manchete de letras garrafais, a pérfida insinuação de que o ex-presidente teria feito uma reforma em sua casa de praia, em Angra dos Reis, no valor de R$ 900 mil reais. Segundo a (vá lá) “reportagem”, tal obra teria sido tocada em um período que Bolsonaro teria declarado o valor do imóvel como sendo de R$ 98.500 reais, perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Só aí já temos a insinuação que Jair teria subvalorizado seus bens, visando aparentar “uma vida modesta”, mas o próprio jornal O Globo acabou por admitir, nas linhas seguintes, que o valor atual da casa orça pelos R$ 2,5 milhões de reais – próximo à praia, tamanho e localização.
Mas o ponto central da matéria é que o tal orçamento teria sido encontrado em uma diligência da Policia Federal na sede do PL (partido de Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto). O Globo detalha: “O documento foi identificado em uma pasta na mesa do ex-presidente no escritório do PL, em Brasília, durante uma operação de busca e apreensão na investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022. O material foi juntado ao inquérito em que o ex-mandatário foi indiciado por tentar reverter o resultado das eleições”.
Vamos por partes. A investigação apura uma “tentativa de golpe de Estado”. O quê uma casa – e seu valor – podem influir em alguma conspiração de golpe? Ela foi vendida? Não. Alugada? Também não. Mas não fica por aí e o descaramento piora: o orçamento foi juntado a um inquérito no qual Bolsonaro é acusado de “tentar reverter o resultado das eleições” (sic).
Ele quis dar um golpe ou reverter o resultado das urnas? Ou ele quis dar um golpe depois que a tentativa de reverter deu errado? E por que raios um orçamento de reforma de uma casa pode ser peça importante em tais investigações?
Nada faz sentido, a menos que se suponha um desenfreado consumo de drogas (tarja preta) por agentes e juízes do caso, orbitando em delírios nos quais perderam totalmente suas capacidades cognitivas e – até mesmo – um mínimo de bom senso e vergonha na cara.
E onde entra minha dor de corno com a grande mídia nisso tudo?
Entra no fato de sentir a terrível certeza de ter sido enganado toda uma vida – e creio poder estender tal agonia ao amigo leitor, que certamente sofrerá o mesmo.
Durante décadas a grande mídia controlou, manipulou e conduziu a vontade popular, os gostos, modas e preferências segundo as conveniências financeiras, políticas ou mesmo pessoais de pequeno grupo de privilegiados. Mas cabe lembrar que tamanho poder – que incluía mesmo novas gírias e expressões populares, os famosos “bordões” – não se perde sem luta e ranger de dentes.
Hoje esta mesma grande mídia que, na falta de algo melhor para acusar desafetos simplesmente inventa, empenha-se em fazer aprovar o controle estatal das redes sociais e, consequentemente, de nossas opiniões e gostos, eventualmente contrários aos seus interesses.
Que cada um de vocês, amigos leitores de mais idade, faça sua própria retrospectiva de vida e examine se já tomou atitudes, adotou modas ou usou gírias impostas por esta mesma grande mídia criminosa, despida de seu disfarce glamuroso e exibindo os grossos cascos fedidos de enxofre.
Ser enganado uma vez – até por falta de opções – é aceitável.
O que não podemos admitir é repetir o erro.