Por Walter Biancardine (*)
No artigo de ontem discorri sobre a necessidade de estabelecer e divulgar, ao menos, as bases fundamentais do pensamento de direita e conservador, dada a notória ignorância popular sobre o que são as mesmas.
Tamanha ignorância não é culpa do eleitor mas, sim, decorrente de uma combinação de dois fatores: o predomínio massivo das teses esquerdistas na sociedade, através da doutrinação escolar/acadêmica, acrescida do vetor “epidêmico” causado pelas estratégias gramscianas na cultura, artes, grande mídia e jornalismo.
O segundo e poderoso fator é, como disse no artigo anterior, que o pensamento conservador de direita não constitui uma ideologia em si, a prometer mundos melhores ou sociedade mais justa e feliz. Trata-se tão somente da aplicação do bom-senso popular, mantendo princípios e valores derivados do cristianismo e buscando mudar, eliminar ou melhorar pontos fracos ou prejudiciais para a vida em sociedade.
Constatada a infelicidade de não termos, até o momento, intelectuais conservadores que se apresentem para elaborar alguma espécie de “Manifesto Conservador” – definitivo, esclarecedor e que delimite fronteiras nítidas em pensamentos, ideais e comportamentos – resta-nos o trabalho de conscientização individual, cabeça por cabeça, demorado ainda que orgânico. E é tudo o que temos.
Tais deficiências levaram muitos a incensar a figura de Pablo Marçal como “direitista” ou crerem piamente que o bom Tarcísio de Freitas seria “conservador”. Estes equívocos mostram, de maneira clara, nossa fragilidade perante o engano – deliberado ou não por tais nomes – e a necessidade de construirmos, à brevidade possível, um documento definidor.
É historicamente impossível que um povo se livre de ditaduras através de meios pacíficos, legais e democráticos; pretender alcançar os objetivos acima por estas vias é rematada ignorância ou, na hipótese mais provável, as únicas declarações permitidas, em decorrência da censura e repressão desta mesma ditadura. Mas o fato é que, com bons modos, nada jamais será resolvido e continuaremos subjugados.
Assim sendo, mais necessária ainda se torna esta conscientização popular sobre o que é, realmente, a direita conservadora para que, na única hipótese possível de saída – os militares – não sejamos inocentemente “engolidos” por seu positivismo, tal qual fomos nos anos 60 do século passado.
Cito como exemplo um paralelo que traço entre o governo de Tarcísio, em São Paulo, e os governos militares que tivemos durante vinte anos: ambos – o governador e nossos amigos verde-oliva – apresentam resultados muito bons na economia, o combate ao crime é levado a sério e a administração pública é aceitavelmente moralizada. Mas todos os dois – governador e generais – entregaram, candidamente, a gestão estatal da cultura nas mãos vermelhas da esquerda, para pasto e gáudio dos gramscistas que sabem, perfeitamente, da incapacidade militar em compreender o que é uma guerra cultural – vide o General Golbery do Couto e Silva e sua teoria da “panela de pressão”.
O positivismo das casernas revela-se consanguíneo do esquerdismo e torna nossos irmãos de farda – ao menos os do mais alto escalão – impermeáveis aos sinais de alerta comunistas, sintoma amplamente comprovado através do regime militar brasileiro.
Para evitar que saiamos de uma ditadura do Judiciário e caiamos em outra, militar, é preciso que a definição clara e ampla do que é a direita conservadora atinja nossas elites econômicas e financeiras, única “casta” a reunir poder suficiente – até mesmo através da promoção de sanções internacionais – para controlar de maneira satisfatória nossos “salvadores da pátria”. Sim, pois não se iluda o leitor: sem força bruta não é possível sair de uma ditadura.
Mas – perguntará o leitor – como mudaremos o quadro positivista das Forças Armadas? Do mesmo modo, poderá alegar que o Alto Comando já se encontra infiltrado por um oficialato conivente com os desmandos atuais. O que poderemos fazer? E, por último, restará a pergunta de um milhão de dólares: por quê as Forças Armadas entregaram, pacificamente, o poder nas mãos de civis e, pior, esquerdistas?
Sobre tais assuntos falarei em meu artigo de amanhã.