Por Walter Biancardini
Não, não escreverei comentários pedindo a intervenção da Virgem por sobre nossa carecida Terra Brasilis – por demais necessitada e ela sabe disso, dispensa meus rogos atrasados. Mais útil é valer-me de algumas poucas linhas para lembrar que a Igreja Católica, em seu ensino teológico, deixa bem clara a diferença do culto que prestamos à Deus, à Nossa Senhora e aos santos.
Em grego, o termo “douleuo” significa “honrar”, e não “adorar”. No sentido verbal, “adorar” (ad orare) significa simplesmente orar ou reverenciar alguém. Para que não reste dúvidas, a própria Vulgata – Bíblia original, em latim – diz “Tu adorarás o teu Deus” (Mt 4, 10) mas, por outro lado, também enuncia: “Abraão, levantando os olhos, viu três varões em pé, junto a ele. Tanto que os viu, correu da porta da tenda a recebê-los e, prostrando em terra, os adorou”. (Gn 18, 2).
Creio ter deixado bem explicado os dois sentidos, precisamente indicados pela própria Bíblia: adoração suprema, devida só à Deus, e adoração de reverência, devida à outras pessoas.
Em português claro, o culto de “latria” (do grego “latreuo”) quer dizer “adorar”, reservado à Deus. Já o culto de “dulia” (do grego “douleuo”), significa “honrar”. Já a “hiperdulia” é algo acima do culto de honra sem, entretanto, atingir o culto de adoração – Nossa Senhora ou, em meu caso particular, Santa Therezinha de Lisieux são exemplos.
E para zerar nossa equação lembro aos que eventualmente protestem, alegando ainda que toda “inclinação” ou “genuflexão” é um ato eminentemente de “adoração” – só devido à Deus – recordo que isto pode ser até mesmo um ato de agressão, como no caso dos soldados de Pilatos que zombaram de Jesus, inclinando-se ao “Rei dos Judeus” em clara galhofa.
Que católicos e evangélicos deixem de rezingas e unam-se, portanto, em adoração ao nosso Deus único e Uno – que é o mesmo de Israel, e nos trágicos dias que vivemos a misericórdia é mais bem vinda que fundamentalismos religiosos.
(*) Walter Biancardine é jornalista, analista político e escritor. Foi aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho, autor de três livros e trabalhou em jornais, revistas, rádios e canais de televisão na Região dos Lagos, Rio de Janeiro