Por Walter Biancardine (*)
As mais primárias buscas de pertencimento a um grupo, validação pelo mesmo, identificação e as sempre presentes, popularidade e votos, transformaram a maior parte dos políticos brasileiros em simples produtores de vídeos, youtubers no papel de analistas políticos.
De congressistas estaduais aos federais, passando até mesmo por prefeitos e governadores, todos encontraram o fácil caminho da crítica em vídeos, esquecendo-se convenientemente do poder que tem nas mãos. A maioria esbraveja, indignada, contra os desmandos da atual ditadura – sejam eles econômicos ou legais – enquanto alguns, com visível ar de autoridade, vitimizam-se relatando os tormentos e perseguições (realmente) sofridas, advindas de nosso patológico Poder Judiciário.
Antigos youtubers que, graças ao sucesso obtido na plataforma elegeram-se, ainda mantém o velho cacoete de apenas reclamar, como se nada mais pudessem fazer e fossem meros e comuns pagadores de impostos. Outros, de carreira mais tradicional, renderam-se ao feedback rápido das redes e sua imediata viralização, tornando-se assim igualmente “youtubers”.
O número de postagens reclamatórias é exponencialmente superior ao das que relatam suas ações de fato; poderíamos contabilizar que, para cada 200 postagens resmungonas, apenas uma divulga qualquer providência (na maioria das vezes inócua e pífia) tomada pelo mesmo.
Não foi para isso que os elegemos, pagamos seus gordos salários, assessores e demais mordomias. Se a função é apenas reclamar, melhor podemos nós fazê-las – sem adicionais, auxílios-paletó ou quaisquer agrados além da obrigação de obedecer, baixar a cabeça e pagar impostos, que todo cidadão tem, atualmente.
Urge a necessidade de vergonha na cara, pois celulares e YouTube todos nós temos. A diferença entre nós e os políticos é sua autoridade para legislar, intervir, atuar de modo incisivo e até – por quê não? – conspirar, bloquear votações e erguer paredes políticas contra os desmandos do governo e do Judiciário, através da pura e simples recusa em cumprir determinações.
Sim, para ser político é preciso coragem e disposição para sacrificar-se, para isso os pusemos lá e pagamos seus gordos proventos.
Por outro lado o cidadão comum deve imunizar-se contra o poderoso feitiço que é ver seu político na TV esbravejar e reclamar contra tudo que o pobre eleitor sempre quis gritar, mas que sua condição de servo pagador de impostos jamais permitiu. Tal cena satisfaz o eleitor, mas reclamar qualquer um pode fazer, bastando celulares e internet.
Que o eleitor proteste contra o “político-youtuber”, cobre do mesmo ações positivas, corajosas e eficazes ou, nas próximas eleições, não terá seu voto.
E que este mesmo eleitor, dado o caráter emergencial de nossa conjuntura, também saia às ruas mostrando sua indignação, dando o respaldo necessário para que tais políticos despertem de seu sono eterno e façam alguma coisa.
Uma mão lava a outra. Criemos o protesto, para que os políticos criem as medidas que desejamos.
Ou nada, jamais, mudará.