Por William Saliba
A recente transação envolvendo o megaempresário Rubens Lessa Carvalho, dono da Saritur – empresa que opera o transporte coletivo urbano em Ipatinga e Timóteo, na Região Metropolitana do Vale do Aço – e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco levanta questões cruciais sobre a influência política no setor de transporte.
Segundo apurou o jornalista Tácio Lorran do site Metrópoles, Lessa, um dos principais nomes do transporte coletivo em Minas Gerais, adquiriu duas empresas de ônibus do presidente do Senado Rodrigo Pacheco, em um momento decisivo para o marco regulatório do transporte interestadual.
A coincidência temporal e as ligações políticas entre os envolvidos geram preocupações sobre possíveis conflitos de interesse.
Rubens Lessa, que preside a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros de Minas Gerais (Fetram) e é um influente articulador do setor, comprou as empresas de ônibus de Pacheco, cujas licenças já estavam vencidas e enfrentavam dívidas milionárias.
As transações ocorreram enquanto a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) revisava o marco regulatório do transporte interestadual, uma legislação essencial para o setor.
As novas regras, que foram ratificadas em dezembro de 2023, favorecem grandes corporações, como a de Lessa, gerando um ambiente de negócios ainda mais benéfico para os gigantes do transporte.
O presidente do Senado afirmou que a venda das empresas foi motivada por razões pessoais, especificamente a doença de seu pai, que era o administrador das companhias. Pacheco destacou que a transação foi conduzida com um “conceituado grupo do setor” e não teria qualquer relação com suas funções públicas. Lessa, por sua vez, defendeu a regularidade do processo e alegou ter seguido todas as normas de mercado, embora tenha se abstido de divulgar os valores das transações.
A ANTT, que tem laços diretos com Pacheco – incluindo diretores indicados pelo senador – declarou que a atualização do marco regulatório visa garantir uma prestação adequada dos serviços aos usuários. No entanto, a intersecção entre interesses políticos e empresariais suscita dúvidas sobre a imparcialidade das novas regras.
A venda das empresas de Rodrigo Pacheco para Rubens Lessa, em um contexto de revisão crítica do marco regulatório, ilustra como a política pode interagir com os interesses empresariais de maneira controversa. Embora tanto Pacheco quanto Lessa afirmem que a transação foi realizada dentro da legalidade e sem irregularidades, a falta de transparência sobre os detalhes financeiros e o timing das vendas geram um ambiente propício para questionamentos.
É fundamental que a sociedade e as instituições mantenham vigilância sobre tais operações para garantir que as regras do jogo sejam justas e que o interesse público prevaleça sobre interesses privados.
A reflexão final é se a atual estrutura de controle é suficiente para impedir que práticas questionáveis comprometam a integridade das políticas públicas e a transparência empresarial.