Por Amauri Meireles (*)
Cidadãos, dêem-me seus ouvidos. Vim para falar sobre César, aliás, sobre o setor público, não para louvar seu admirável legado. Aos homens sobrevive o mal que fazem, mas o bem quase sempre com seus ossos fica enterrado.
O nobre senhor governador Brutus Romeu Zema disse a vocês que o setor público é uma casta de privilegiados, de prepotentes que querem tratamento diferenciado. E se é verdade, a falta é muito grave, e esses funcionários irão expiá-la, pelas mãos do governador – que tem ojeriza por essa classe – e de assessores diretos, que têm essa mesma antipatia, digo, percepção. Pois o governador Romeu Zema é um homem honrado, e assim o são todos seus assessores diretos.
Venho para falar especificamente sobre a indignação dos servidores da segurança. Eles são ótimos profissionais, competentes e altruístas. Mas o governador Zema diz que eles são ambiciosos (confundindo com gananciosos).
Eles reduzem os níveis de insegurança em nosso Estado, eles enfrentam o perigo com destemor, sendo motivo de orgulho dos mineiros. Isto parecia uma atitude ambiciosa das forças de segurança? Quando os cidadãos sofriam com a criminalidade, com as calamidades, as forças de segurança se desdobravam em contê-las.
Vocês todos viram que Zema, por três vezes, tratou as forças de segurança com descaso, com desdém, oferecendo-lhes as migalhas do banquete de bilhões que a Samarco, a Vale e outras mineradoras patrocinaram, e as impolutas forças de segurança recusaram. Isto era ambição? Zema diz que era, e Zema, sabemos, é um homem honrado.
Contudo, escrevo aqui para discordar do que Zema falou. E eu tenho que escrever sobre aquilo que eu sei. Vocês todos, de alguma forma, já admiraram as polícias e tinham razões para fazê-lo. Qual razão os impede agora de apoiá-las nessa luta pela dignidade?
Ontem, a ação das forças de segurança seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui desprestigiada, menosprezada, desdenhada pelo próprio chefe. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus Zema e de Cassius Mateus, os quais, como sabem, são homens honrados.
Não vou falar mal deles. Não citarei o obscurantismo de sugerir que servidores públicos, cruciais, migrem para o setor privado; sobre a incoerência entre a proliferação de sinecuras e o propalado estado mínimo; sobre o sigilo da elevação da dívida, mesmo com os juros suspensos há seis anos; sobre o medo de dialogar, buscando-se um ponto de equilíbrio.Prefiro falar do embate desigual entre abnegados iludidos e os honrados ilusores.
Entretanto, eis aqui um pergaminho com o selo das forças de segurança. É o seu juramento. Estava na casa de uma viúva de um policial que tombou em serviço. Quando vocês lerem esse juramento (porque, perdoem-me, não pretendo lê-lo), vocês se arrojarão para beijar os ferimentos das forças de segurança e tingir seus lenços no seu sagrado sangue.
Tenham paciência amigos, mas eu não devo lê-lo. Vocês não são de madeira ou de ferro, e sim humanos. E, sendo humanos, ao ouvir o juramento das forças de segurança vão se inflamar, ficarão furiosos. É melhor que vocês não saibam que vocês são os alvos de proteção das desprotegidas forças de segurança. Pois se souberem… o que vai acontecer?
Cidadãos, vocês têm lágrimas, preparem-se para soltá-las.
Vocês conhecem o manto das forças de segurança. Vejam, foi neste lugar que a fala de Cassius Mateus Simões penetrou.
Neste outro rasgão, Zema, eleito pelas forças de segurança e demais funcionários públicos, enfiou a sua fala, e, quando ele arrancou a sua maldita arma do ferimento, vejam como o sangue das Polícias escorreu.
Zema, como vocês sabem, era a aposta das forças de segurança.
Oh! Deuses, como as forças de segurança o ajudaram. O golpe de Zema foi, de todos, o mais brutal e o mais perverso.
Pois, quando as disciplinadas forças de segurança viram que Zema as apunhalava, a ingratidão, sim, a ingratidão, mais que a força do braço traidor, feriu seu coração.
Oh! Que traição brutal meus concidadãos. Então eu e vocês e todos nós nos sentimos traídos.
Sim, agora vocês choram. Vejo que repudiam o aviltamento, a pirraça de Zema para com as polícias e com os demais servidores públicos. Boas almas. Choram ao ver o manto sagrado das forças de segurança despedaçado.
Bons amigos, não quero estimular a revolta de vocês. Aqueles que praticaram este ato são honrados iludentes. Quais queixas e interesses particulares os levaram a fazer o que fizeram, não sei. Mas são sábios e honrados e tenho certeza que esconderão de vocês as suas verdadeiras razões.
Eu não vim para roubar seus corações. Eu não sou um gestor do tipo Zema.
Sou um homem simples e direto, que não traio os meus amigos.
Aqui está o juramento, com o selo das Polícias. A cada cidadão elas oferecem seu próprio sangue e deixam seus bens: honra, coragem, solidariedade.
E essas mesmas forças de segurança não querem que o governador Zema se lance contra a própria espada, como o fez Brutus, arrependido. Querem, sim, que ele reveja sua postura. Certamente, através do diálogo, encontrará uma saída honrosa para esse conflito.
Dialogue!…