Por Natália Brito (*)
Nos últimos anos, o mundo da arquitetura tem sido marcado por uma incessante busca por inovação e originalidade. Contudo, muitas vezes essa busca resulta em modismos efêmeros que rapidamente se tornam obsoletos. Em contraste, a arquitetura sensorial surge como uma abordagem que vai além das tendências passageiras, oferecendo uma experiência mais profunda aos espaços.
A arquitetura sensorial envolve a criação de espaços que estimulam os sentidos humanos — visão, audição, tato, olfato e paladar. Em vez de se concentrar apenas na estética visual, essa abordagem busca despertar emoções e memórias, conectando os indivíduos ao ambiente de uma forma única e que traduza uma atmosfera de personalidade, onde o usuário se identifica e vivencia suas ações de maneira mais significativa.
Cada espaço, seja uma casa ou um comércio, deve contar uma história e criar vínculos duradouros com seus usuários. Um exemplo dessa prática é o trabalho do arquiteto japonês Tadao Ando, que usa luz natural e materiais como concreto e madeira para criar atmosferas reflexivas. Seus projetos, como a Igreja da Luz, demonstram que a simplicidade e a atenção aos detalhes podem gerar uma experiência sensorial imersiva.
Além de fomentar uma relação genuína entre pessoas e espaços, a arquitetura sensorial contribui para o bem-estar. Um ambiente mal projetado, como uma cozinha com má ventilação, pode afetar a permanência e o relaxamento, uma vez que essas áreas se tornaram mais do que apenas locais de preparo de alimentos.
Um desafio para arquitetos e designers, ao criar um design sensorial é investir em uma visão mais holística e comprometida com a experiência humana. O objetivo deve ser criar espaços que realmente toquem as pessoas, considerando suas sensações em cada atividade.
Em resumo, a arquitetura sensorial representa uma alternativa viável e enriquecedora frente ao ciclo incessante de modismos. Ao focar na experiência humana e na conexão emocional com o espaço, essa abordagem não apenas resgata a essência do que significa habitar, mas também se torna um antídoto para a superficialidade que frequentemente permeia o design contemporâneo, que muitas vezes se limita a uma especificação de materiais recém-chegados ao mercado.
É uma forma de lembrar que, no final das contas, a arquitetura deve ser um reflexo das nossas vivências, memórias e sensações, ultrapassando tendências e se tornando assim, atemporal.
(*) Natália Brito é arquiteta e professora mestre, com 15 anos de experiência na área de projetos e 12 anos dedicados à educação. Ela possui a Formação DAP (Desenvolvimento Avançado de Projetos) e é cofundadora da Arqcalc, uma startup de Precificação de Projetos. Através de plataformas digitais, mentora milhares de profissionais da Arquitetura e Design, ajudando-os a aprimorar suas práticas e gestão.