Por Ricardo Ramos (*)
O fascismo, um dos fenômenos políticos mais sombrios do século XX, é frequentemente associado a regimes autoritários que utilizam a censura como uma ferramenta de controle social. A repressão à liberdade de expressão não é apenas uma característica do fascismo, mas um dos seus pilares fundamentais.
Este artigo busca explorar a relação intrínseca entre o fascismo e a censura, analisando como essa prática destrói o tecido da sociedade democrática e como suas consequências ainda reverberam em contextos contemporâneos.
O fascismo é uma ideologia política que surgiu no início do século XX, inicialmente na Itália sob Benito Mussolini e, posteriormente, na Alemanha com Adolf Hitler. Caracterizado por um forte nacionalismo, militarismo e autoritarismo, o fascismo promove a ideia de um Estado centralizado e poderoso, que deve ser capaz de unir a nação em torno de uma identidade comum. O fascismo se opõe ao liberalismo, ao socialismo e a qualquer forma de dissidência, buscando eliminar a diversidade de opiniões e a pluralidade de ideias.
Uma das principais ferramentas utilizadas pelos regimes fascistas para alcançar seus objetivos é a censura. A repressão à liberdade de expressão é uma maneira eficaz de controlar a narrativa pública, silenciar vozes dissidentes e garantir que apenas uma versão da verdade seja divulgada. Essa prática não só limita o debate democrático, mas também cria um ambiente de medo e conformidade.
FERRAMENTA DE CONTROLE
A censura pode ser entendida como a supressão de informações, ideias ou expressões que são consideradas indesejáveis ou ameaçadoras para o Estado ou para a ideologia dominante. Nos regimes fascistas, essa prática é sistemática e abrangente. Livros, jornais, filmes e obras de arte são frequentemente censurados ou banidos, e os artistas e intelectuais que ousam desafiar o status quo são perseguidos.
Um exemplo emblemático é o regime nazista, que implementou uma política de censura rigorosa, conhecida como “Aktion gegen die Unkultur” (Ação contra a Cultura Indesejada). Obras de autores como Franz Kafka e Thomas Mann foram banidas, e artistas que não se alinhavam com a ideologia nazista foram perseguidos ou forçados ao exílio. O objetivo era criar uma cultura homogênea que refletisse os valores do regime, eliminando qualquer forma de crítica ou questionamento.
No contexto italiano, Mussolini também utilizou a censura como uma ferramenta de controle. A imprensa era estritamente regulamentada, e qualquer crítica ao regime era rapidamente silenciada. O resultado foi um ambiente em que a população se sentia insegura para expressar suas opiniões, levando a uma conformidade generalizada.
CENSURA NA SOCIEDADE
Os efeitos da censura são profundos e duradouros. Quando a liberdade de expressão é restringida, a sociedade perde a capacidade de debater questões importantes e de questionar as decisões do governo. Isso cria um ciclo vicioso: a falta de crítica e debate leva a decisões mal informadas e a uma governança ineficaz, o que, por sua vez, alimenta ainda mais a insatisfação popular.
Além disso, a censura gera um ambiente de medo. As pessoas se tornam relutantes em expressar suas opiniões, mesmo em ambientes privados, temendo represálias. Essa atmosfera de desconfiança pode levar à apatia política, à alienação e à desilusão com as instituições democráticas. A sociedade se torna mais vulnerável à manipulação e à propaganda, pois a falta de informações diversificadas impede que os cidadãos façam escolhas informadas.
CENSURA NA ERA DIGITAL
Embora o fascismo clássico tenha se manifestado em contextos específicos do século XX, a questão da censura permanece relevante hoje, especialmente na era digital. Com o advento da internet, surgiram novas formas de controle da informação. Governos autoritários e regimes que se alinham com ideais fascistas ainda utilizam a censura para silenciar vozes dissidentes e controlar a narrativa pública.
Países como China e Coreia do Norte são exemplos contemporâneos de regimes que utilizam a censura de forma sistemática. Na China, o governo controla rigorosamente o acesso à informação, bloqueando sites e plataformas que possam desafiar a narrativa oficial. As redes sociais são monitoradas, e os usuários que se atrevem a criticar o regime podem enfrentar severas consequências.
No Ocidente, a censura também pode se manifestar de maneiras mais sutis. A pressão sobre plataformas de redes sociais para moderar conteúdo, muitas vezes em nome da “segurança” ou da “decência”, pode levar à exclusão de vozes críticas e à limitação do debate público. Essa dinâmica levanta questões sobre quem decide o que é aceitável e o que não é, e como essas decisões podem ser influenciadas por interesses políticos ou econômicos.
RESISTÊNCIA À CENSURA
É importante destacar que, apesar da repressão, sempre houve formas de resistência à censura. Ao longo da história, artistas, escritores e ativistas encontraram maneiras de expressar suas ideias e desafiar os regimes autoritários. O uso da sátira, da arte subversiva e da literatura clandestina são exemplos de como a criatividade humana pode encontrar caminhos para contornar a censura.
No Brasil, durante a ditadura militar (1964-1985), muitos artistas e intelectuais enfrentaram a repressão e a censura. Músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, embora perseguidos, conseguiram transmitir mensagens de resistência através de suas canções. O teatro e a literatura também desempenharam papéis cruciais na luta contra a censura, com obras que criticavam abertamente o regime.
A luta pela liberdade de expressão é um direito fundamental que deve ser defendido em todas as sociedades. A resistência à censura não é apenas uma questão de proteger a liberdade individual, mas também de garantir que a sociedade possa evoluir e se adaptar às mudanças. O debate aberto e a troca de ideias são essenciais para a saúde de qualquer democracia.
DEMOCRACIA COMPROMETIDA
Em suma, a relação entre o fascismo e a censura é clara e preocupante. A censura não é apenas uma característica dos regimes fascistas, mas uma ferramenta fundamental utilizada para controlar a narrativa, silenciar a dissidência e manter o poder. Quando a liberdade de expressão é ameaçada, a democracia é comprometida, e a sociedade se torna vulnerável a abusos de poder.
A luta contra a censura é, portanto, uma luta pela preservação da democracia e dos direitos humanos. Em um mundo cada vez mais polarizado e repleto de desinformação, é essencial que os cidadãos permaneçam vigilantes e defendam a liberdade de expressão em todas as suas formas. A resistência à censura deve ser uma prioridade para todos aqueles que acreditam em uma sociedade justa e plural.
Assim, ao refletirmos sobre a relação entre o fascismo e a censura, devemos lembrar que a liberdade de expressão é um bem precioso que deve ser protegido. A história nos ensina que a censura não apenas destrói a diversidade de ideias, mas também enfraquece o próprio tecido social. Em um mundo onde a verdade é frequentemente contestada, a defesa da liberdade de expressão se torna uma responsabilidade coletiva, vital para a construção de um futuro mais democrático e inclusivo.
(*) Ricardo Ramos Rezende tem doutorado em Teologia pela Universidade da Bíblia e autor de vários livros