Por Vitor Bizarro (*)
A discussão sobre a reforma tributária no Brasil é uma constante no cenário político e econômico, mas apesar de suas intenções de simplificação e modernização, há riscos significativos que devem ser considerados. A reforma, tal como está sendo proposta, pode inadvertidamente exacerbar as desigualdades sociais e regionais, impactando desproporcionalmente os mais pobres e as regiões menos desenvolvidas do país.
Para compreender os riscos da reforma tributária, é essencial analisar como a redistribuição da carga tributária pode afetar diferentes segmentos da sociedade. A criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) unificado, por exemplo, pode simplificar o sistema, mas também pode aumentar a regressividade do sistema tributário. Os impostos indiretos, como o IVA, incidem sobre o consumo e, portanto, tendem a pesar mais no bolso dos mais pobres, que gastam uma maior parte de sua renda em bens e serviços essenciais. Se a reforma não for acompanhada de medidas compensatórias, como a ampliação de programas sociais ou a isenção de itens básicos, os mais vulneráveis serão os mais prejudicados.
Outro ponto de preocupação é a desoneração da folha de pagamento, que, embora possa incentivar a formalização do emprego, pode também resultar em uma transferência da carga tributária para outras áreas, como o consumo ou as transações financeiras. A criação de um imposto sobre transações financeiras digitais, por exemplo, pode parecer uma solução moderna e eficiente, mas pode acabar impactando negativamente as pequenas e médias empresas, que já enfrentam dificuldades no atual ambiente econômico. Além disso, esse tipo de imposto pode ser repassado aos consumidores finais, aumentando o custo de serviços e produtos e penalizando, mais uma vez, os mais pobres.
A desigualdade regional é outro aspecto crucial que deve ser levado em conta. O Brasil é um país de dimensões continentais, com grandes disparidades econômicas entre as diferentes regiões. A unificação de tributos como o ICMS pode parecer justa na teoria, mas na prática, pode retirar a autonomia dos estados para implementar políticas fiscais que atendam às suas realidades específicas. Estados mais ricos, que atualmente atraem investimentos através de incentivos fiscais, podem continuar a prosperar, enquanto estados mais pobres, que dependem desses incentivos para se desenvolver, podem ser deixados para trás. A guerra fiscal, embora problemática, é uma realidade que muitas vezes beneficia regiões menos desenvolvidas, e sua eliminação pode aprofundar ainda mais as disparidades regionais.
Além disso, a simplificação do sistema tributário pode acabar favorecendo as grandes corporações em detrimento das pequenas e médias empresas. Empresas maiores, com recursos para investir em consultoria e tecnologia, estão mais bem equipadas para se adaptar a novas regulamentações e para encontrar maneiras de minimizar sua carga tributária. Já as pequenas e médias empresas, que são a espinha dorsal da economia brasileira, podem enfrentar dificuldades adicionais para se adequar às mudanças, o que pode prejudicar sua competitividade e sua capacidade de gerar empregos.
É fundamental também considerar o impacto da reforma tributária sobre a arrecadação e os serviços públicos. A proposta de reforma deve garantir que a arrecadação não seja comprometida, pois isso afetaria diretamente a capacidade do Estado de fornecer serviços essenciais, como saúde, educação e segurança. Qualquer queda na arrecadação precisa ser cuidadosamente avaliada e compensada por outras fontes de receita ou por uma maior eficiência na administração pública. Caso contrário, a população mais carente será a mais afetada pela redução dos serviços públicos.
Em conclusão, embora a reforma tributária seja necessária e possa trazer benefícios como a simplificação e a modernização do sistema, é crucial que ela seja implementada de maneira justa e equilibrada. As mudanças devem ser acompanhadas de políticas compensatórias que protejam os mais vulneráveis e garantam que a carga tributária não seja transferida de forma desproporcional para os mais pobres e para as pequenas e médias empresas. Além disso, é essencial que a reforma considere as desigualdades regionais e busque formas de fomentar o desenvolvimento equilibrado entre as diferentes regiões do país.
A reflexão que deixo aos leitores é sobre a importância de se envolver ativamente no debate sobre a reforma tributária. É fundamental que todos os setores da sociedade, especialmente os mais afetados, façam suas vozes serem ouvidas. A reforma tributária deve ser uma construção coletiva, que leve em conta as necessidades e as realidades de todos os brasileiros. Somente assim poderemos alcançar um sistema tributário mais justo, eficiente e capaz de promover um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo.