Aldo Rebelo, ex-deputado federal e ex-ministro nos governos petista, entre 2004 e 2016, contestou uma das principais narrativas do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): a de que seu governo quase sofreu uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. Para o ex-ministro, trata-se de uma “fantasia” entoada pelo petista e seus seguidores para manter viva a chama da polarização política e dar tração a uma aliança entre o Executivo e o Judiciário para se contrapor ao Legislativo.
“Faz bem à polarização atribuir ao antigo governo a tentativa de dar um golpe. Criou-se uma fantasia para legitimar esse sentimento que tem norteado a política nos últimos anos. É óbvio que aquela baderna foi um ato irresponsável e precisa de punição exemplar para os envolvidos. Mas atribuir uma tentativa de golpe a aquele bando de baderneiros é uma desmoralização da instituição do golpe de Estado“, disse o ex-ministro em entrevista ao Poder360.
Aldo comparou os ataques de 8 de Janeiro ao movimento do MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), uma dissidência do MST, que em 6 de junho de 2006 invadiu a Câmara dos Deputados, depredou parte do patrimônio e deixou 24 pessoas feridas, sendo uma em estado grave.
“Eles levaram um segurança para a UTI, derrubaram um busto do Mario Covas. Eu dei voz de prisão a todos. A policia os recolheu e eu tratei como o que eles de fato eram: baderneiros. Não foi uma tentativa de golpe. E o que houve em 8 de Janeiro é o mesmo“, comparou. Na época, Aldo era o presidente da Câmara dos Deputados.
Segundo ele, a ideia de que Lula e as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) salvaram a democracia servem a um outro propósito. Ambos enfrentam dificuldades no Legislativo. Lula teve dificuldade em aprovar pautas de seu interesse em 2023 e viu uma número robusto de vetos serem derrubados. O Judiciário, por outro lado, lida com projetos de lei que visam diminuir o seu poder.
IMPEACHMENT
Aldo sempre militou na esquerda. Lutou contra a ditadura militar e foi filiado a maior parte de sua carreira política ao PC do B. Nas últimas eleições, concorreu ao Senado pelo Solidariedade.
Em 2015, foi voz ativa contra o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Era crítico das medidas do STF que, em sua avaliação, permitiram que o processo continuasse até destituir a petista.
“Tive sempre uma posição critica com relação à destituição da presidente Dilma, que foi um erro histórico. E contou com o protagonismo importantíssimo do STF“, afirmou.
OUTRO EX-MINISTRO DE LULA DIZ QUE NÃO HOUVE TENTATIVA DE GOLPE
Ex-deputado federal e ex-ministro das Comunicações de Lula, Miro Teixeira, discorda da avaliação da esquerda de que o país esteve na iminência de um golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023. Para ele, a melhor definição daquele dia é “balbúrdia”. Segundo Miro, se a bagunça tivesse virado golpe, Lula e outros líderes teriam sido chutados do poder. Mas quem assumiria? Não tinha ninguém na fila.
Ao Poder 360, Teixeira disse que se houvesse intenção de dar um golpe ele teria sido feito enquanto Bolsonaro ainda estava no poder.
“Não se sabe sequer se Bolsonaro seria do paladar de uma cúpula militar”, disse.
“E aí [se fosse do paladar] teriam feito [o golpe] enquanto ele era presidente. Seria a manutenção do poder. Em janeiro, já não mais. Se houvesse golpe, não seria para entregar o poder a ele”, afirmou.
O ex-ministro também disse que o presidente Lula acertou ao não declarar uma operação GLO (Garantia de Lei e da Ordem).
“Se tivesse editado a GLO, botaria tropas na rua e poderia surgir o comandante que sugeriria medidas não democráticas”, disse.
No documentário “A democracia resiste” da Globonews, dirigido pela jornalista Julia Duailibi, Lula disse que foi Janja, sua esposa, quem o alertou contra a decisão de implementar uma GLO no 8 de janeiro.
“Não aceita a GLO porque a GLO é tudo que eles [a cúpula militar] querem, é tomar conta do governo”, disse Janja.
“Se eu dou autoridade pra eles, eu dou o governo pra eles”, disse Lula ao documentário.
Teixeira disse que foram falhas de inteligência e de segurança gravíssimas Lula não ter sido informado sobre os atos extremistas. “É grave Lula ter sido surpreendido pelos atos”, afirmou.
“Um presidente não pode ser surpreendido por algo que estava anunciado há 2 dias nas redes sociais”.