Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo estão diagnosticadas com autismo, e no Brasil, são aproximadamente seis milhões de crianças. Em alusão ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, a neurologista pediátrica da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Dra. Ellen White Rodrigues Bacelar Almeida, ressalta a importância da conscientização e de compartilhar informações. “É necessário falar do tema para que a sociedade conheça mais sobre o que é o autismo, de forma que as pessoas com diagnóstico do TEA – Transtorno do Espectro Autista sejam mais bem compreendidas e, assim, se sintam integradas na sociedade, além de diminuir preconceitos e discriminação, aumentando o respeito à suas neurodiversidades. É importante que haja uma mudança na sociedade. A informação é a melhor forma de respeitar os direitos dos indivíduos com autismo”, reforça a médica.
Considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, o autismo se inicia nos primeiros anos de vida, com déficits persistentes na comunicação e na interação social, apresentando interesses restritos, comportamentos repetitivos acompanhados de atraso da linguagem.
O termo autismo foi criado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler para descrever a fuga da realidade para um mundo interior observado em alguns pacientes. Em 2013, foi criado o termo TEA – Transtorno do Espectro Autista, a partir da quinta edição do DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, seguindo o entendimento que o TEA engloba uma diversidade de sintomas e níveis de gravidade do autismo, desde o mais leve até o mais severo.
Sinais de alerta para o TEA já podem ser percebidos no primeiro ano de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade. O autismo é muito mais frequente no sexo masculino, sendo cerca de 3,8 meninos para uma menina. E, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC, a prevalência é de uma criança com autismo para cada 36 crianças nascidas vivas.
A neurologista explica que crianças dentro do espectro do autismo apresentam muita dificuldade de contato visual, dificuldade na interação social. “As crianças preferem brincar sozinhas, não imitam, não atendem quando são chamadas. Apresentam dificuldade em iniciar ou manter uma conversa e um marco importante é o atraso no desenvolvimento da fala. Não compreendem gestos, expressões faciais, além de grande resistência a mudanças na rotina, dificuldades sensoriais e apego a objetos, ou seja, dão mais importância aos objetos do que para as pessoas. Esses sinais variam muito conforme a faixa etária”.
O diagnóstico do autismo é clínico, feito com um médico especialista, geralmente um neurologista infantil ou um psiquiatra infantil, que irá realizar a anamnese, uma entrevista com os pais e a avaliação da criança. Associada a essa consulta, uma avaliação neuropsicológica também auxiliará no diagnóstico. “O quanto antes a pessoa for diagnosticada e iniciar terapias que possam ajudá-la a desenvolver sua cognição, é possível promover também um desenvolvimento das habilidades de comunicação, socialização, aprendizagem, autonomia nas atividades de vida diárias, enfim, um melhor desenvolvimento e na qualidade de vida”, ressalta a médica.
O transtorno não tem cura, mas o paciente pode ser estimulado a desenvolver a capacidade de compreender e de comunicar, com técnicas baseadas na ciência do comportamento, executadas por uma equipe multidisciplinar. Todo o tratamento deve ser individualizado para cada necessidade, de cada paciente.
“Fundamental é o engajamento da família e dos pais. O treinamento parental para trabalharem com essas crianças em casa é de suma importância. Essa rede de apoio garante mais sucesso no tratamento, e assim, uma melhor resposta dessas crianças”, conclui a neurologista infantil.