Por Walter Biancardine (*)
Em meados dos anos 70 a esquerda encontrou em Luís Inácio, o Lula, seu personagem ideal como líder de massas: ignorante, péssimo português, mas dizia coisas que a censura militar não gostava e tinha, então, carisma. Seu português ruim – mais que verso de música famosa – vinha ao encontro daquilo que o próprio Fernando Gabeira relatava em seu livro “O Que é Isso, Companheiro?”, onde revelava que militantes da esquerda adestravam-se em falar o mesmo linguajar precário dos “proletários” – um fascínio antigo, portanto.
É notória a disparidade entre o linguajar dito “culto”, acadêmico, e nosso coloquial de todos os dias. Não à toa o filósofo Olavo de Carvalho adquiriu tamanha notoriedade no Brasil, conseguindo a proeza de ver seu nome em faixas estendidas em estádios de futebol. Qual era o segredo? Ele traduziu a empolada fala filosófica em termos cotidianos e, para acabar de conquistar os corações, fazia comentários políticos muito bem fundamentados, mas que beiravam a obscenidade.
Por uma dessas coincidências do destino, Jair Bolsonaro – o maior e único líder político de direita que este país já teve – exibe, igualmente, um vocabulário “pouco ortodoxo”, digamos assim. Suas origens nos quartéis e mesmo a índole franca e sem rodeios deliciam e cativam multidões que, deste modo, enxergam-se representadas por ele.
Se, por um lado, tal modo de ser “desmontava” a arrogância pedante de acadêmicos, entrevistadores e até mesmo adversários políticos, deixando-os sem argumentos plausíveis e desequilibrando-os, por outro abriu os olhos oportunistas de muitos, que enxergaram em tais características uma escada para o sucesso fácil.
O brasileiro viu assim o surgimento de inúmeros “influencers” onde, em seus canais no YouTube, despejavam carradas de palavrões à título de “sinceridade”, alguns até portando cachimbos ou vestindo-se de maneira bastante formal, na ânsia de mostrarem-se “conservadores”, em um arremedo quase caricatural de Olavo de Carvalho. Muitos deles são analistas excelentes, com opiniões embasadas e precisas – ainda que desbocadas – mas que deixam saltar aos nossos olhos sua necessidade explícita de aceitação.
Não demoraria a surgir – aliás, era inevitável – cópias humanas de Jair Bolsonaro, com seu jeito desabrido e sincero. O problema é que, além da falta evidente de autenticidade, tais políticos (ou aspirantes a políticos) sempre exageram, tentando demonstrar naturalidade naquilo que é evidentemente artificial.
No artigo anterior, cujo link segue anexo, comentei sobre a reprovação que as críticas do pastor Silas Malafaia angariou, referentes ao deputado Nikolas Ferreira e seu apoio ao candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal. E o que posso acrescentar sobre isso, que seja pertinente ao teor destas linhas? E, desde já, respondo: duas condenações, tanto a Silas quanto a Marçal.
Malafaia sempre foi muito popular, mas normalmente restrito ao meio evangélico. Suas recentes atuações na política conservadora despertaram nele, entretanto, o deslumbre pelo clamor das multidões – pois que assim somos nós, conservadores: absoluta maioria – e o mesmo desandou a adotar maneirismos e vocabulário “bolsonariano”, ou o que ele julgasse assim o ser.
Suas críticas ao apoio de Nikolas a Marçal podem e devem ser respeitadas, mas a raiz de tantas críticas certamente residirá no fato que Silas as fez se valendo de adjetivos injustos, argumentos “ad hominem” (pessoais) e tudo o mais que, em sua cegueira imitativa, julgou ser “popular” entre os seguidores de Jair Bolsonaro. Quebrou a cara, desnecessário dizer.
Quanto a Pablo Marçal, ele é um “coach” – e isto é o máximo (e melhor) que se pode dizer dele.
Fez sua carreira escorado na neurolinguagem, angariando legiões de seguidores que não entendiam uma só palavra do que dizia, apenas ouviam – encantados – a música retórica de seus lábios.
A política fez com que o mesmo trilhasse – já que escolhera o caminho dito “fácil”, o populismo direitista – a mesma rota que Silas, e desandasse a ofender, adjetivar e atacar pontos pessoais de quaisquer adversários que ousassem atravessar seu caminho, pois o mesmo acredita piamente que isto o levará – e parece estar levando – ao sucesso nas urnas.
A única diferença que o separa de Silas Malafaia é que Marçal mostra claramente que não é conservador. Aliás, sequer direitista ele é. Para ser mais exato, Pablo não é esquerda, direita, centro ou o que for: Pablo é apenas Pablo, e por isso não possui nenhum projeto de governo. O que exibe é um projeto de poder, pessoal e intransferível, um invejoso em busca da cadeira cativa merecidamente conquistada por Jair Messias Bolsonaro.
Mas esta é minha análise, minha opinião pessoal e, portanto, merece ser respeitada.
PS: Clique aqui e leia o primeiro artigo para conclui este raciocínio.