Por Mário Plaka (*)
Vendo e ouvindo atentamente a entrevista do presidente da Usiminas, no que diz respeito à indústria brasileira, concedida a um jornal aqui de Minas Gerais, eu tomei a liberdade de criar este editorial para chamar a atenção do povo. E reiterar uma frase que eu sempre uso: voto não tem preço; voto tem consequências.
O Brasil vive, hoje, um dos momentos mais graves da sua história recente no que diz respeito à proteção da indústria nacional. Enquanto Estados Unidos, Europa e México reforçam barreiras comerciais, elevam tarifas e reduzem cotas para defender seus empregos, seu aço e sua soberania, o Brasil segue na contramão: aberto, vulnerável e desprotegido.
A fala recente do presidente da Usiminas, Marcelo Chara, não deixa dúvidas. Ele descreve, com precisão, a escalada global de medidas de proteção:
– a Europa reduzindo em 47% suas cotas;
– tarifas sendo elevadas para 50%;
– os EUA aplicando a Seção 232 com a mesma força;
– o México fortalecendo suas defesas.
Enquanto isso, o Brasil permanece como o país mais permissivo entre todas as grandes economias. E, quando o mundo fecha suas portas, todo o aço excedente vai para onde? Para onde está aberto. Para onde não há proteção. Para onde o governo não reage: o Brasil. O resultado é devastador.
A China produz, em um mês, o equivalente a um ano inteiro de produção brasileira. São quase 900 milhões de toneladas, contra nossos 30 milhões. A competição, portanto, não é competição: é esmagamento.
O Chara foi claro ao expor a consequência imediata desse desequilíbrio: a necessidade de demissões para ajustar custos e tentar sobreviver a uma avalanche de importações subprecificadas. Não se trata de uma escolha empresarial fria, como muitos tentam pintar. Trata-se de uma imposição criada pela ausência de políticas públicas.
E é aqui que entra o ponto central: não é verdade que essas demissões são fáceis e que depois “voltam naturalmente”. Não voltam.
Quando um país abre mão de proteger suas cadeias produtivas, ele abre mão de empregos, de renda, de tecnologia, de soberania e de futuro. O trabalhador brasileiro, já sem proteção social adequada, torna-se a parte mais frágil de um sistema que não o defende.
Enquanto isso, produtos chineses — fruto de uma estrutura industrial que opera em patamares impossíveis de serem igualados pelo Brasil — inundam o mercado nacional. E vale lembrar: nossa Constituição é clara ao proibir relações comerciais com sistemas que utilizem práticas análogas ao trabalho escravo. Ainda assim, o país tem absorvido volumes recordes de mercadorias vindas de um modelo que viola direitos humanos e destrói concorrências.
As consequências estão diante de nós:
– empresas nacionais à beira do colapso;
– empresários desesperados;
– indústrias parando fornos, reduzindo turnos;
– milhares de trabalhadores sendo desligados;
– cadeias inteiras se desmontando.
E, no fim, surge a pergunta que ninguém mais consegue evitar: A quem interessa fragilizar a indústria brasileira? A quem interessa transformar o Brasil no destino final do excedente produtivo chinês? A quem interessa ver o país perder capacidade produtiva, estratégica e social?
O governo, que deveria proteger o mercado interno, permanece inerte. Pior que isso: sinaliza alinhamento a um modelo que entrega a economia nacional à concorrência mais predatória do planeta.
A fala de Marcelo Chara revela uma verdade incontornável: a indústria brasileira está resistindo como pode — cortando custos, melhorando produtividade, reduzindo quadros — mas já chegou ao limite.
E pedir “ajuda” não é pedir favor. É pedir o que toda grande nação concede aos seus: proteção mínima para sobreviver.
O Brasil precisa decidir agora se quer continuar sendo um país que produz ou um país que apenas consome o que vem de fora. Se quer empregos aqui ou empregos lá, se quer futuro ou se quer dependência permanente.
A escolha está sendo feita, com ou sem debate público. E, até aqui, a escolha não tem sido a favor do povo brasileiro.
























