Por Mário Plaka (*)
Aprovada no Senado e sancionada como Lei nº 15.247/2025, a legislação que determina a alfabetização até o segundo ano do Ensino Fundamental poderia ser um marco histórico. Mas, de que adianta uma lei bem escrita se prefeitos, secretários de educação, pedagogos e diretores continuam tratando a alfabetização como se fosse um simples item de checklist burocrático?
O problema da educação no Brasil nunca foi falta de lei — é falta de vergonha e responsabilidade pública. Todo ano surgem discursos sobre “transformação”, “formação cidadã” e “compromisso com o futuro”, mas quando chega a hora do investimento real — formação docente, acompanhamento pedagógico, oficinas permanentes, estrutura adequada e valorização profissional — o silêncio é absoluto.
Nas redes municipais, a realidade é dura: professores lançados ao próprio destino, sem formação prática, sem apoio técnico, sem material, sem orientação contínua. E há um ponto que ninguém quer admitir: a maioria dos professores da educação básica não tem formação específica em alfabetização. Isso não é opinião — é dado de pesquisa. Universidades formam pedagogos generalistas, mas poucos saem preparados para conduzir o processo alfabetizador de forma científica, estruturada e eficaz.
O resultado está diante de todos: crianças passando de ano sem ler, jovens concluindo o ensino médio sem interpretar um parágrafo e universitários diplomados incapazes de escrever um texto coerente. Sim, é isso mesmo — temos universitários que nunca foram verdadeiramente alfabetizados. Uma tragédia educacional fabricada pelo próprio sistema.
E como falar em alfabetização séria com salas superlotadas — trinta, quarenta alunos — onde o professor precisa operar milagres? Para completar, somamos uma política de “inclusão” feita na base do improviso: alunos com deficiência colocados em salas comuns sem professor de apoio qualificado, sem oficinas de preparação, sem acompanhamento técnico, sem estrutura mínima. Inclusão sem suporte não é inclusão — é abandono travestido de boa intenção.
O drama é duplo: o aluno com deficiência não recebe o atendimento especializado que precisa, e os demais têm sua aprendizagem prejudicada. Pergunta simples: os municípios estão preparados? As escolas foram treinadas? Os professores de apoio receberam oficinas, capacitação continuada e orientação técnica? Os pais atípicos foram escutados? Ou estamos fingindo incluir para preencher relatório e agradar indicador?
A alfabetização é o alicerce de toda a vida escolar. Sem ela, não há leitura, interpretação, raciocínio lógico ou futuro. Mas enquanto prefeitos e secretários acreditarem que investir em educação é pintar muro, trocar uniforme e distribuir merenda, continuaremos a formar analfabetos diplomados — vítimas de um sistema hipócrita, que prefere estatística bonita a resultado real.
A nova lei é boa, sim. Mas lei não alfabetiza. Quem alfabetiza é o professor — e ele precisa de suporte real. Oficinas pedagógicas permanentes, formação continuada, acompanhamento, turmas menores e respeito à verdadeira inclusão. Não existe alfabetização sem professor preparado. Não existe inclusão sem apoio. Não existe educação de qualidade sem responsabilidade municipal.
E aqui vai a pergunta que ninguém tem coragem de fazer:
Senhores prefeitos, secretários, pedagogos e diretores — até quando vão fingir que formam cidadãos, enquanto empurram gerações inteiras para o fracasso educacional?
Chega de política pública de mentirinha. Chega de faz de conta. O Brasil precisa de compromisso real, vergonha na cara e coragem para enfrentar a verdade: não existe futuro para um país que abandona sua alfabetização.
























