Por Mário Plaka (*)
Vivemos um tempo em que o absurdo virou moda. A cada semana, uma nova “tendência” nas redes sociais transforma crianças e adolescentes em cobaias de experiências perigosas. Brincadeiras como o “Desafio do Desodorante”, o “Quebra-Crânio” e o “Blackout Challenge” já deixaram sequelas físicas e mortes. Agora, o “Dia do Cabelo Maluco” volta aos holofotes — e, pasmem, há mães colando objetos com supercola no couro cabeludo dos filhos para arrancar risadas na internet.
O que parece apenas diversão esconde algo muito mais sério: um colapso de discernimento coletivo. A sociedade está sendo testada — e, ao que tudo indica, reprovada. Porque o que está em jogo não é só o bom senso, é a própria inteligência emocional e moral de uma geração que não sabe mais distinguir o certo do insano.
A omissão começa em casa
Antes de culpar a internet, é preciso olhar para dentro de casa. Muitos pais estão terceirizando a educação dos filhos para telas e modas. Permitem tudo em nome da “liberdade”, mas esquecem que liberdade sem limite é caminho para o abismo. Crianças estão mudando cor de cabelo para “entrar na onda”, sem saber que determinadas cores ou símbolos são usados por facções criminosas. Outros exibem tatuagens, pulseiras e adereços com significados ligados a violência, sexualidade precoce ou cultos obscuros — e tudo isso com o aval ou o silêncio dos adultos.
A infância não pode ser transformada num laboratório de identidades confusas. Ser pai e mãe é orientar, não aplaudir o erro. É proteger, não expor. Cada vez que um adulto filma o próprio filho participando de uma moda perigosa, está assinando uma confissão de irresponsabilidade.
Escolas: formadoras ou cúmplices?
Outro ponto grave é o papel das escolas. Quando instituições promovem “gincanas” como o “Dia do Cabelo Maluco” sem avaliar riscos ou sem orientar corretamente, elas perdem sua autoridade educativa e se tornam cúmplices de um processo de alienação. Educação não é acompanhar modismo — é formar caráter, razão e senso crítico.
Professores e gestores precisam recuperar o propósito da escola: ensinar a pensar antes de seguir. É preciso substituir as dinâmicas tolas por atividades que estimulem reflexão, empatia e responsabilidade. A formação moral e cívica precisa voltar a ter valor — porque, sem ela, nenhuma tecnologia salvará nossos jovens da burrice coletiva que se alastra com cliques e curtidas.
O marketing da estupidez
As plataformas digitais sabem que o grotesco vende. Quanto mais absurdo o vídeo, maior o engajamento. A consequência é uma avalanche de conteúdos que premiam a imprudência e ridicularizam o raciocínio. Estamos treinando uma geração para rir da própria ignorância. E o mais alarmante: há adultos participando ativamente desse circo.
Em vez de formar cidadãos críticos, estamos moldando seguidores automáticos, que repetem gestos, falas e aparências sem qualquer reflexão. O desafio agora é outro: resgatar o poder de pensar, de questionar, de dizer “não” ao ridículo.
Um teste de inteligência social
Essas modas, em sua essência, são um teste. Um teste para medir até onde vai o raciocínio e o instinto de autopreservação da sociedade. Cada vez que alguém aceita colar o cabelo de uma criança com supercola, pintar os fios de cores associadas a gangues, tatuar símbolos sem saber o significado ou participar de desafios que machucam, estamos provando que regredimos como espécie pensante.
O problema não é a moda em si, mas a falta de filtro, a ausência de consciência e a carência de princípios que deveriam ser ensinados desde cedo. Não existe avanço tecnológico que compense a falência moral.
Hora de reagir
Chegou a hora de pais, educadores e autoridades darem um basta.
As escolas devem proibir práticas que exponham ou causem risco a crianças.
Os pais precisam reassumir o dever de orientar, impor limites e ensinar valores.
E a sociedade deve voltar a tratar educação como prioridade — e não como espetáculo.
Cada geração tem seu espelho. A nossa está refletindo a superficialidade, a pressa, a vaidade e a estupidez travestidas de modernidade. Que esse reflexo sirva de alerta. Porque, se nada mudar, a próxima “brincadeira” pode custar mais do que a inocência: pode custar vidas.
























