Por Mário Plaka (*)
A nova regra que dispensa a obrigatoriedade da autoescola pode baratear o acesso, mas impõe um desafio: formar condutores conscientes e preparados.
A recente proposta que torna facultativa a frequência em autoescolas para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) abriu um debate nacional. De um lado, quem enxerga avanço, economia e inclusão. Do outro, os que temem o aumento de acidentes e a perda da qualidade no trânsito.
O fato é que o país vive um novo momento: o processo de habilitação deixa de ser um caminho único e passa a oferecer escolhas. E toda escolha traz consigo responsabilidades.
Democratização e acesso
Hoje, tirar a CNH custa, em média, R$ 3.200 — um valor proibitivo para boa parte da população. O governo estima que, com a mudança, o custo possa cair até 80%, tornando o documento mais acessível e reduzindo o número de motoristas irregulares nas ruas.
Outro ponto positivo é a liberdade de aprendizado. O candidato poderá estudar sozinho, fazer cursos online, contratar instrutores autônomos ou continuar buscando o ensino tradicional em autoescolas. Isso representa modernização, flexibilidade e inclusão — uma atualização necessária diante dos novos tempos.
Os números que acendem o alerta
Mas toda transformação carrega riscos. A formação prática — o ato de lidar com o trânsito real, com imprevistos e com o comportamento humano — não pode ser subestimada.
Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que 24,3% dos condutores feridos em acidentes nas rodovias federais tinham menos de seis anos de habilitação. Entre os mortos, 16,6% estavam na mesma faixa de inexperiência.
O Detran do Rio Grande do Sul identificou que 28% dos motociclistas envolvidos em acidentes fatais não eram habilitados, e cerca de 13% dos condutores de carros nunca passaram por aulas formais de direção.
Esses números deixam claro: a inexperiência e a má formação continuam sendo fatores determinantes nas estatísticas de morte e ferimentos no trânsito. A liberdade é bem-vinda, desde que venha acompanhada de preparo e responsabilidade.
O novo papel das autoescolas
Neste cenário, o desafio das autoescolas não é resistir, mas se reinventar.
A partir de agora, a importância da autoescola deixará de ser imposta por lei e passará a ser reconhecida por mérito.
Para isso, é hora de investir:
– em mídia e visibilidade, para mostrar ao público a relevância do serviço;
– em qualificação dos instrutores, para garantir um ensino prático, direto e moderno;
– e em respeito ao aluno, evitando práticas antigas que priorizavam o lucro em detrimento do aprendizado.
A boa autoescola não será vista como um peso, mas como um porto seguro para quem quer dirigir com confiança e responsabilidade.
Ser facultativo não é ser dispensável.
A mudança na CNH é uma oportunidade histórica para o Brasil repensar o modo como forma seus condutores.
O Estado pode abrir o caminho, mas cabe à sociedade — e especialmente às autoescolas — mostrar que a qualidade do ensino é o que de fato salva vidas.
A autoescola que investir em ética, técnica e credibilidade não perderá espaço; ao contrário, ganhará respeito, alunos e relevância social.
Afinal, liberdade verdadeira é aquela que anda de mãos dadas com a responsabilidade.
























