Por Mário Plaka (*)
Acordei hoje, como faço todos os dias, pensando no que escrever. Mas está difícil focar em um só tema quando o mundo parece virado de ponta-cabeça. A começar pela minha cidade, porque toda mudança que eu quero para o Brasil e para o mundo precisa nascer em mim, na minha família, no meu bairro.
E como é que a gente sonha num mundo desses? Padre Zezinho já cantava em “Utopia”: alguém batia à porta trazendo luz em forma de menino e dizia que “tudo é mais forte quando todos cantam a mesma canção”. Bonito, não? Quase dá vontade de acreditar que dá pra viver de esperança e pão de queijo.
Mas aí a memória puxa a cadeira e se senta no alpendre: Roberto Carlos, em “A Guerra dos Meninos”, lembra do tempo em que “faltava tudo, mas o importante não faltava — o sorriso e o olhar dos pais”. E a gente se pergunta: como é que conseguimos ser mais ricos no tempo em que éramos pobres? Hoje temos celulares, mas perdemos a conversa no portão.
Só que a realidade é malcriada, não bate na porta — arromba. E aí vem Tribux Jah com “Três e Dois da Pátria”, esfregando na cara o retrato dos engravatados: “Senhor Babilônia, você não passa de um ladrão, doutor apenas em corrupção, traidor de seu povo e de sua nação”. E o povo? O povo assiste, paga a conta e ainda aplaude quando o ladrão inaugura uma praça.
Entre o sonho, a lembrança e a dura realidade, sobra a certeza: se a mudança não começar em nós, vamos continuar cantando para surdos, chorando em silêncio e aplaudindo estátuas de bronze erguidas para traidores.
























