Por Mário Plaka (*)
Nos últimos dias, duas mensagens que chegaram ao País soam, juntas, como um insulto à razão. De um lado, reportagens mostram que o Brasil tem excedente de energia limpa — tanta energia renovável que o sistema precisa desligar usinas para evitar sobrecarga. De outro, a Aneel aciona a bandeira vermelha e diz que falta energia, que a conta precisa subir.
Como pode sobrar e faltar energia ao mesmo tempo?
A resposta está na estrutura do setor elétrico. Quando sobra energia limpa, ela é cortada. Quando falta planejamento, acionam termoelétricas — caras, poluentes e, frequentemente, controladas por grupos com influência política e econômica.
Enquanto isso, quem investe em gerar sua própria energia — pequenas e médias empresas, produtores rurais, famílias — acaba sendo visto como problema e regulado para baixo.
No fim, quem paga a conta é o trabalhador. Mas as distorções não param por aí.
O Brasil também assiste a um espetáculo de leniência com privilégios e blindagens no centro daquilo que deveria ser limpo e fiscalizado.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes e descontos indevidos em benefícios do INSS vem revelando um tamanho preocupante de esquema: depoimentos e relatórios apontam movimentações bilionárias por associações e operadores que fizeram descontos irregulares de aposentados e pensionistas, além de pagamentos milionários a intermediários e o envolvimento de dirigentes sindicais e ex-servidores.
Algumas testemunhas têm se calado diante da CPMI; em outros casos, o relator chegou a apontar indícios de organização criminosa.
Ao mesmo tempo, checagens do próprio Senado desmentiram algumas informações virais sobre condenações definitivas — o que mostra a mistura entre apurações sérias e desinformação que circula nas redes.
A Realidade da CPMI do INSS
De 2019 a 2024, o esquema investigado pela CGU e pela Polícia Federal causou um prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões. 97,6% dos aposentados e pensionistas entrevistados disseram não ter autorizado descontos associativos.
Os descontos em aposentadorias saltaram de R$ 49,9 milhões (2022) para R$ 220,7 milhões (2024) — mais de quatro vezes em dois anos. Entre 2016 e 2024, o total anual descontado de beneficiários passou de R$ 413 milhões para R$ 2,8 bilhões.
A CGU identificou cerca de 7,7 milhões de aposentados e pensionistas com possíveis autorizações ou descontos irregulares que precisam ser reavaliados. Esses números mostram o tamanho do rombo e a falta de respeito com quem trabalhou a vida inteira.
Enquanto o sistema sangra, políticos e operadores tentam blindar nomes e esconder depoimentos.
Outro episódio que simboliza esse Brasil invertido é o projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa da Bahia pela deputada Olívia Santana (PCdoB) — o PL 25.771/2025. A proposta prevê conceder auxílio financeiro a famílias de pessoas mortas em operações policiais, inclusive em confrontos com a polícia.
Segundo reportagens, o valor poderia ultrapassar R$ 9 mil por mês, para até cinco pessoas da família, pagos com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza. Críticos afirmam que o projeto inverte valores: usa dinheiro público destinado à população carente para premiar famílias de quem desafiou o Estado.
Enquanto isso, o trabalhador brasileiro enfrenta uma via-crúcis para conseguir uma aposentadoria. E quando finalmente consegue, recebe uma pensão miserável — muitas vezes ainda descontada por sindicatos e atravessadores.
O quadro é simples e cruel: Um INSS com rombos e fraudes sendo investigadas; Políticos blindados; Aposentados enganados; e propostas absurdas que colocam o criminoso como vítima e o trabalhador como culpado.
Esse é o Brasil de cabeça para baixo.
Aqui, o caranguejo anda de lado e a curupira aponta o caminho errado com o pé virado. Os valores se inverteram: quem trabalha é penalizado, quem vive de esquema é protegido.
Mas ainda há um caminho. O ano que vem tem eleição. É hora de varrer os que transformaram o poder em negócio e colocar gente nova, com coragem e compromisso com o país.
Porque, do jeito que está, o Brasil não anda — rasteja. E quem paga essa conta, mais uma vez, é você.
























