Por Mário Plaka (*)
Luís Roberto Barroso, jurista brilhante e voz respeitada do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu abandonar o palco antes do último ato. A aposentadoria repentina deixou o país em silêncio — um silêncio que grita mais alto do que qualquer discurso de toga.
Nos últimos anos, o Supremo transformou-se em um campo de batalha onde vaidades, egos e disputas internas parecem falar mais alto do que a própria Constituição. Ministros que antes eram símbolo de equilíbrio passaram a trocar farpas em público, revelando um bastidor que mais se assemelha a um teatro de intrigas do que a uma corte suprema. O povo assiste, perplexo, vendo seus “guardiões” duelarem entre si, como se a lei fosse apenas um detalhe na guerra pelo protagonismo.
O ex-ministro Marco Aurélio Mello já havia alertado: “Tudo está errado”. E completou — “quem começa mal, não termina bem”. Talvez Barroso tenha entendido o recado antes dos outros. Ao perceber o rumo da embarcação, preferiu saltar antes do naufrágio. Porque há momentos em que a toga pesa mais do que protege — e o silêncio passa a ser a forma mais nobre (ou mais desesperada) de protesto.
Lá fora, o povo sente o mesmo peso. Vive acuado, temendo o que pode dizer, o que pode postar, o que pode pensar. Voltamos aos tempos em que a prudência virou sinônimo de sobrevivência. É como na velha canção: “Nos dias de hoje é bom que se proteja, ofereça a face pra quem quer que seja…” — porque até a verdade, hoje, virou risco.
Enquanto isso, Brasília parece um tabuleiro de xadrez em chamas. Cada movimento é calculado, cada palavra pode custar um império. Executivo, Legislativo e Judiciário se olham com desconfiança, enquanto o povo, cansado, só quer saber quem ainda fala a verdade. A pergunta ecoa nas ruas e nas redes: quem realmente governa o país? E até onde podemos confiar nos que juraram proteger a Constituição?
Agora, com a aposentadoria repentina de Barroso, surge um novo temor: quem virá em seu lugar? A indicação caberá ao presidente Lula, e o país sabe bem o peso político que cada nome carrega dentro do Supremo. Barroso, apesar de sua origem ligada ao governo Dilma, já havia adquirido experiência e certa autonomia institucional — conhecia os ventos e as marés daquele barco chamado STF. Mas o medo do povo, hoje, é que o novo comandante venha não para estabilizar, e sim para reforçar a tempestade.
De onde vem a pressão para essa saída? E quem sopra o nome que ocupará a cadeira vazia? São perguntas que ecoam nas ruas e nos corredores de Brasília. Por isso, caberia ao Congresso e ao Senado — especialmente àqueles que farão a sabatina — criar um compromisso mais firme, não apenas verbal, mas assinado, documentado. Que o indicado firme, de próprio punho, um pacto com o país: o de cumprir a Constituição acima de ideologias, de partidos ou de gratidões políticas. Palavra sem valor é vento; compromisso escrito, esse pesa na balança da história.
E talvez caiba aqui a lembrança de uma velha parábola: o povo, cansado de um rei injusto, orou por sua morte. O rei morreu — e veio outro pior. Oraram de novo, e o novo rei também morreu — mas o que veio depois foi ainda mais cruel. Até que o povo entendeu que não adiantava desejar a queda, mas sim orar para que o rei se convertesse dos seus maus caminhos. Porque, às vezes, o problema não é quem sai, e sim quem entra. E o Brasil de hoje corre esse mesmo risco.
Mas a história tem seu próprio ritmo — e, um a um, os “reis” começam a cair. Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus. E o povo assiste, sem entender o enredo, mas pressentindo o desfecho. Porque quando os reis caem, é sinal de que o castelo já está rachado.
Talvez esse seja o retrato do Brasil de hoje: um país onde até o silêncio é perigoso — e onde o barulho do medo tenta abafar o som da consciência.
























