Por Mário Plaka (*)
Houve um tempo em que falar de planejamento familiar era falar de respeito, compromisso e propósito de vida. Mas hoje, muitos se perguntam: como falar em planejamento familiar dentro de uma favela, dentro de uma comunidade onde a estrutura básica já foi corroída? Essa pergunta, que me fizeram num debate recente, abre uma ferida profunda — e a resposta está na própria transformação cultural que a sociedade viveu nas últimas décadas.
Após os anos 60 e 70, o mundo entrou na era da globalização moral, e junto com ela veio a banalização da família. As novelas começaram a ditar comportamentos, os filmes eróticos invadiram os lares, e a apologia ao sexo, às drogas e à vida “livre” se tornaram moda. Era o tempo dos hippies, da rebeldia, da liberdade sem direção — “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento”. O que parecia uma simples onda cultural se infiltrou aos poucos, corroendo os alicerces da família tradicional.
O namoro perdeu seu valor. O respeito, a espera e o compromisso deram lugar à pressa e ao prazer imediato. O primeiro encontro já é a primeira cama, e o corpo, antes templo de respeito e afeto, virou objeto de consumo. Muitos pais, desorientados, aceitaram o novo modelo: colocam camas de casal nos quartos dos filhos adolescentes, acham “bonitinho” crianças de 10 anos namorando, e se calam diante da sexualização precoce e da gravidez precoce. O resultado é uma geração sem base, sem ética, sem norte moral. E quando a estrutura familiar desaba, o sistema aproveita. Um sistema que lucra com a destruição da moral, com o enfraquecimento da família e com a dependência emocional e financeira das pessoas. Um sistema que estimula o caos para dominar. Entram o álcool, o cigarro, as drogas — e o homem se perde. A mulher se perde. A juventude se perde. E até os que se dizem religiosos, muitas vezes, já não conhecem a base daquilo que dizem crer. Leem a Bíblia, mas não a vivem.
Hoje, o namoro é uma caricatura. Casais lado a lado, mas separados por telas, por celulares, por vidas digitais. Não se olham nos olhos, não se conhecem, não perguntam o essencial: “Quem é você? Como vive a sua família? Quais são os seus princípios?”. A pressa em viver o agora destrói o amanhã. Sem autoconhecimento, não há comunhão; sem respeito, não há amor; e sem amor, não há família. O reflexo disso está por toda parte. Heranças desperdiçadas por filhos que nunca aprenderam o valor do trabalho e da responsabilidade. Pais que afrouxaram os princípios e colheram a indiferença. Jovens que confundem liberdade com libertinagem e prazer com felicidade. Tudo isso é fruto da ausência de planejamento, e o planejamento familiar começa no respeito próprio.
Eu sou da década de 60. Cresci, namorei, noivei e casei. A minha esposa foi resposta de oração, e os meus filhos foram projetos de fé. Antes mesmo de existir, eu já orava por eles. Isso é planejamento. Isso é propósito. Hoje, poucos fazem isso. Muitos buscam o prazer imediato e esquecem que o amor verdadeiro exige tempo, renúncia e respeito.
Quer um exemplo maior de uma geração perdida? É o que vemos nas redes sociais: a geração dos 12. Crianças de 12 anos tatuando o corpo, fazendo apologia ao crime, sendo recrutadas como novas conquistas do tráfico. Meninos e meninas de 10, 11, 12 anos se tornando soldados do crime. Jovens morrendo todos os dias, assassinados por dívidas de droga, por disputas de esquina, por se envolverem com a companheira de um traficante. Esse é o retrato cruel de uma sociedade sem estrutura familiar.
O episódio recente da carnificina no Rio de Janeiro foi um tapa na cara da sociedade brasileira. Jovens no alto do morro, provocando a polícia, desafiando a lei. Ao olhar para aquelas cenas, vi olhares inocentes — olhares de crianças que foram tragadas pelo crime. Muitos ali nem sabiam o que estavam fazendo. São vítimas de uma agenda global que busca transformar o caos em política, o crime em poder e a destruição da família em projeto de dominação. Essa é a verdadeira face da Agenda 2030: o embrião de um narco-estado que pavimenta o caminho para o comunismo, corroendo a fé, a moral e o respeito.
Duro é esse discurso, mas mais dura é a realidade que estamos vivendo. Uma sociedade sem referência, sem fé e sem base não se sustenta. E o que destrói o homem não é o sistema em si, mas a sua própria falta de respeito consigo mesmo. Porque quem não se respeita, não respeita ninguém: nem pai, nem mãe, nem esposa, nem filhos, nem o próximo — nem o próprio país.
O planejamento familiar começa quando o indivíduo entende que respeitar-se é o primeiro passo para respeitar a vida. E enquanto não resgatarmos essa consciência, continuaremos gerando gerações perdidas, sem lenço, sem documento e, pior, sem direção.
























