Por Walter Biancardine (*)
O estilo paradoxal da propagandista da ditadura, a jornalista Míriam Leitão, foi adotado neste artigo para que o leitor entenda o porquê de – mesmo insistindo em fazer tudo incorretamente – tenhamos onde nos agarrar, como tábua de náufrago a salvar nossas esperanças: o protesto exigindo anistia aos presos do 8 de janeiro.
Todo e qualquer movimento de protesto com o povo nas ruas tem, por finalidade, exigir das autoridades a resolução de determinado problema. E o que vemos neste domingo? O Brasil inteiro, simbolizado pela massa humana aglomerada na Av. Paulista, a exigir das autoridades – que são a origem dos problemas – que se resolva a si mesmo. Como disse, apenas o estilo paradoxal da sra. Leitão caberia neste artigo.
Não bastasse “exigirmos” da ditadura que afrouxe seu próprio totalitarismo, chegamos ao cúmulo de adotar como pauta a confissão de um crime que jamais foi praticado – ora, como anistiar quem jamais cometeu algum ato ilícito? Em nenhum momento teria passado pela cabeça de nossos líderes que o fato de assinarmos uma concessão de “perdão” significa assumirmos que cometemos o ato fictício ali descrito? Ninguém lembrou como isto será ensinado daqui à dez ou quinze anos pelos professores (marxistas) nas escolas?
Estamos bêbados, dopados sob o efeito da hipotética lei Magnitski norte-americana, que poderá – em um passe de mágica e sem que nos exija nenhum sacrifício ou dor – resolver “todos os nossos problemas” e será autêntica “espada de Dâmocles”, a pairar sobre os pescoços da horda comunoglobalista que nos conduz como gado manso, hoje em dia.
O brasileiro médio tudo aceita, tudo engole e a tudo se rebaixa, desde que não tenha de pagar ou sacrificar-se por isso. Adota a omissão como filosofia de vida, verdadeiro “vou ficar quieto para ver se alguém toma a iniciativa”, pois se há alguma coisa que nos envergonha profundamente e ninguém perdoa é sermos heroicos. E a lei gringa veio à calhar.
Perguntará o leitor: “mas se não exigirmos anistia, como tirar os inocentes da cadeia? Você não tem piedade?” E eu respondo: quem não tem piedade é a massa omissa, que adota alegremente paliativos inúteis apenas para “parecer” que lutou por alguém. Como tirá-los da cadeia? Fazendo o óbvio, que é exigir a extinção dos processos e a libertação dos inocentes.
E o leitor poderá voltar à carga: “Mas isto é impossível, eles jamais extinguirão um dos sustentáculos da atual ditadura!”. E respondo: sim, eu sei. E é por isso – acrescento – que sem sangue nas ruas, sem sacrifício, sem dor e perdas (como já previra o Gen. João Batista Figueiredo em 1979, ao anistiar os que hoje se recusam em dar anistia) jamais tiraremos o crime organizado do poder.
A escolha é dura, dolorosa e exige coragem.
Mas é isso ou permanecermos deitados eternamente em celas esplêndidas.
Só nós, e mais ninguém, poderá nos salvar.