Por Walter Biancardine (*)
A Polícia Federal (PF), a Receita e a Fazenda vieram recentemente a público com a retumbante operação Carbono Oculto e suas irmãs, Quasar e Tank. O espetáculo revelou números assustadores: bilhões de reais, imundos, investidos em combustíveis, fintechs e fundos, milhares de postos e usinas e até mesmo um terminal portuário na malha. O alvo? O PCC. Nomeado, estampado, exposto. A grande mídia vibrou: “o maior esquema de lavagem já desbaratado no país”.
Mas vamos à pergunta incômoda: só o PCC lava dinheiro na Faria Lima?
O Comando Vermelho (CV), o ADA, o Terceiro Comando – por acaso passaram a guardar seus milhões embaixo do colchão?
A explicação oficial é quase pueril: “cautela processual”. A PF só cita o nome da facção quando há lastro documental robusto; nos demais casos escreve “organização criminosa”. Ótimo. Mas alguém, em sã consciência, acredita que o CV e o ADA processariam a PF por “calúnia”? É isso mesmo? A polícia se autocensura como se os maiores narcos do país fossem suscetíveis de indenização por dano moral? Só rindo.
O ponto é outro: o sistema precisava de uma troca de pele. A cobra, para sobreviver, se desfaz da casca antiga – como muito bem lembrado pelo príncipe Luís Phillipe de Orleans e Bragança. O PCC, no imaginário popular, já carrega o fardo de possuir ligações com um ministro e ele, sancionado pela Lei Magnitsky nos EUA, virou carta fora do baralho internacional. Expor o PCC, portanto, é conveniente: entrega-se um vilão notório, um aliado radioativo, e o resto da engrenagem sobrevive incólume.
O espetáculo midiático explica-se aqui: não se trata apenas da maior operação contra a lavagem de dinheiro, mas de uma encenação de sobrevivência institucional. Exalta-se o combate ao PCC (o “proscrito”), e silenciam-se os outros. Por quê? Porque o CV de Lula e Dino ainda é útil. O ADA, idem. Ambos permanecem na sombra, guardados como ativo político e territorial.
Não confundamos: isso não significa que o PCC esteja fora do jogo. Ao contrário, suas ligações com o Cartel de Los Soles – bem acolhido no Foro de São Paulo de Lula, junto com as FARC – continuam. A diferença é que, no teatro das aparências, o PCC é queimado em praça pública, enquanto os demais seguem preservados.
E aí voltamos ao absurdo recente: juiz solta traficante com 200 quilos de cocaína porque seria “quantidade pequena”. Não é só decisão aberrante, é sintoma: o Judiciário já não distingue 200 gramas de 200 quilos. Isso não é cautela, é contaminação.
No fim, a questão que resta é política, não jurídica. Esta operação serve a quem?
Serve ao governo que precisa vender a narrativa de “controle do crime”.
Serve ao sistema financeiro que sonha com Drex e monitoramento do Pix sob capa de combate à lavagem.
Serve até como sinal a Washington, em tempos de Trump: “estamos agindo contra os narcos”.
Mas o leitor não deve se enganar: o crime não está sendo extirpado, apenas redistribuído no tabuleiro. O PCC vira bode expiatório, enquanto CV e ADA ficam em banho-maria.
O sistema está tentando trocar de pele.
E como toda cobra velha, o que sobra é sempre veneno.
Uma última e incômoda pergunta: o propalado terminal portuário adquirido pelo PCC está em suas mãos desde quando? Qual data? Seria esta data posterior à reportagem que denunciou a contaminação da vida marinha por cocaína, no Porto de Santos – onde as drogas tinham livre trânsito? Qual político brasileiro dava as cartas neste porto? Qual político indicou Moraes para o STF?
No mais, tenham uma excelente sexta-feira.
























