Por Walter Biancardine (*)
Hoje, 20 de janeiro, é feriado nos Estados Unidos da América. Mais que posses presidenciais, as quais ocorrem apenas a cada quadriênio, esta data é celebrada em memória de Martin Luther King – ativista dos direitos civis, assassinado em 1968 após dizer: “I have a dream” (Eu tenho um sonho). E foi este sonho que Donald John Trump acaba de prometer trazer de volta aos americanos, após a fraude eleitoral que colocou Joe Biden no poder juntamente com os quatro anos subsequentes de caos, desmoralização e desprestígio internacional.
Impossível errar na previsão do que será seu governo, pois já na posse os aspectos visuais encarregaram-se de transmitir, com perfeição, o que esperar do retorno de Trump à Casa Branca: de uma Melania Trump usando um sobretudo e chapéu de pistoleiro, à la Clint Eastwood em “Por Um Punhado de Dólares”, até a própria foto oficial da Presidência – exibindo um Donald com cara de poucos amigos – tudo colaborou para conduzir o espectador ao seu anúncio das “Executive Orders”, ato normativo expedido pelo chefe do Poder Executivo norte-americano, cuja figura mais próxima que encontramos em nosso sistema é o Decreto.
As mesmas abrangem, entre outros temas, o grave problema dos imigrantes ilegais, os quais serão deportados juntamente com seus filhos, ainda que os mesmos tenham nascido em solo americano. Para tanto, o novo Presidente já esclareceu que enviará tropas do Exército para reforçar a vigilância nas fronteiras.
Ainda relativo a tal região, Trump reforçou a intenção de recuperar o domínio norte-americano sobre o Canal do Panamá o qual, segundo o presidente, está hoje completamente dominado pela China e cria dificuldades e embaraços para navios mercantes e mesmo da Marinha de Guerra dos Estados Unidos – e isto promete dar panos para mangas.
Já que estamos tratando de “Chicanos” fazendo besteiras, completemos: Trump anunciou que incluirá os cartéis (latinoamericanos de drogas) na lista de “organizações terroristas”, fazendo com que alguns advogados da facção criminosa PCC aqui no Brasil – e que hoje fazem um “bico” de Ministros da Suprema Corte – fiquem ligeiramente preocupados. A verdade é que CIA e FBI não são a esculhambação que a Abin (Agência Brasileira de – vá lá – “inteligência”) se transformou e o pessoal de lá bem pode puxar um fio solto, que os levará da boca-de-fumo diretamente à Praça dos Três Poderes, em Brasília. Bom lembrar que, na verdade, toda a América do Sul está, de alguma forma, ligada ao tráfico de drogas – em especial as ditaduras que por cá habitam. Oremos.
“Drill, drill, drill”, disse recentemente Donald Trump em um encontro, levantando aplausos e tornando a frase um refrão. Pois ele a repetiu em sua posse, lembrando que os Estados Unidos boiam em cima de enorme oceano de petróleo e que a exploração do mesmo os fará não apenas liderar o ranking de exportadores como, igualmente, justificará sua decretação do fim da suposta necessidade do infame carro elétrico – e tal frase nos entrega duas dicas: a primeira é o incentivo à indústria automobilística local, explicitada por Donald, tornando os EUA novamente um país fabril.
A segunda é a aparente contradição com a acolhida de Trump a Musk – idealizador do automóvel elétrico Tesla, em contraste com os velhos e bons carros americanos, verdadeiros “land yachts” dos saudosos tempos, e que podem voltar com o barateamento da gasolina. O que lucraria o sr. Elon com tal política?
A resposta é simples: a conquista de Marte, conforme anunciado por Trump. Ao trocar automóveis por foguetes, somados aos despojos da exploração em si, Musk e Donald podem ter fechado uma brilhante parceria – não apenas pelo lucro material em si mas, igualmente, jogando toda a aura “woke”, embutida nos carros elétricos, no lixo da história. E este último ponto será só do presidente.
Por falar em “woke”, o novo Presidente tocou fundo na ferida e afirmou que, nos Estados Unidos, existem agora somente dois gêneros: masculino e feminino. Para completar, aboliu cotas – inclusive raciais – e deixou claro que apenas a competência será critério de escolhas, de agora em diante.
Podemos nos perguntar se Donald Trump terá sucesso em sua empreitada, mas devo reconhecer que meu otimismo é justificado pela presença, em sua posse, de nomes como Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Google) e até do intragável Mark Zuckerberg, que certamente entrou pela janela.
Tais presenças significam alianças e, por favor, não acusem este autor de louvar Trump por suas alianças com os poderosos: obviamente aplaudo, pois a quem diabos Donald poderia se aliar, além deles e de seu povo? À escória norte americana? Ao lumpemproletariado? Aos miseráveis, que apenas atraem mais miséria?
Pois que chorem pela lucrativa plutocracia, que levará nossos irmãos do norte a dias melhores. Antes esta que a cacitocracia (do grego kakos – “ruim” ou “mal”- e kratos – “poder” ou “governo”) – quando os menos qualificados, mais corruptos ou moralmente inferiores assumem o poder – atualmente adotada no Brasil.
Ao fim e ao cabo, a ampulheta foi virada e as areias começam a escorrer para o lado oposto, finalmente.
Agora é aguardar que os ventos do norte enfunem nossas pobres e rotas velas, para que saiamos deste mortal mar de sargaços, que nos atola e trava há tantos anos.
Haverá choro e ranger de dentes.