O Nepal enfrenta sua pior crise política em décadas após três dias de protestos violentos que resultaram em 22 mortes e centenas de feridos. A capital Katmandu amanheceu nesta quarta-feira (10) sob toque de recolher e patrulhamento militar, com prédios públicos destruídos e ruas repletas de escombros.
A decisão governamental de bloquear 26 plataformas de redes sociais desencadeou uma revolta popular que expôs o profundo descontentamento da população, especialmente dos jovens, com a elite política do país. O primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ao cargo após as forças de segurança utilizarem munição real contra manifestantes na segunda-feira.
As manifestações ganharam força quando jovens da chamada Geração Z passaram a denunciar o contraste entre suas vidas e o luxo ostentado pelos filhos da elite política, conhecidos como “nepo kids”. Enquanto estes exibem bolsas de grife e carros importados, milhares de nepaleses precisam emigrar em busca de trabalho, com suas remessas representando 26% do PIB nacional em 2024.
A revolta também tem raízes na corrupção sistêmica que assola o país. Escândalos envolvendo desvios em obras públicas e fraudes com refugiados butaneses nunca resultaram em punições efetivas. A alternância no poder entre apenas três líderes tradicionais alimentou ainda mais a insatisfação popular.
O cenário atual é de incerteza total. Com o Parlamento e a Suprema Corte incendiados, o aeroporto internacional fechado e a principal empresa de mídia atacada, o país vive um vácuo de poder. O Exército assumiu o controle da segurança, enquanto a ONU cobra investigações sobre a violência policial contra manifestantes.
A situação no Nepal reflete uma tendência regional de levantes populares contra governos estabelecidos. Países vizinhos como Bangladesh e Sri Lanka também vivenciaram recentemente protestos similares liderados por jovens, que resultaram na queda de governantes acusados de corrupção e má administração.
























