Por Edmundo Polck Fraga (*)
Percorrer as ruas de Ipatinga – seja a pé, de bicicleta ou de carro – é um exercício de conexão com o espaço urbano e, ao mesmo tempo, um teste de paciência. O que deveria ser um refúgio de bem-estar, expõe, sem cerimônia, suas falhas estruturais e sociais. Apesar dos indicadores otimistas sobre qualidade de vida e do expressivo orçamento municipal, a realidade cotidiana conta outra história, bem menos encantadora.
Sou o único a notar esse cenário? Onde estão os vereadores, eleitos para fiscalizar e zelar pelo município?
Ainda acredito que há esperança para Ipatinga, mas essa transformação exige que a população abandone a inércia e encare de frente os desafios urbanos. Um simples olhar atento revela os fios soltos que pendem dos postes da Cemig – verdadeiras armadilhas invisíveis – que há muito deveriam estar canalizados no subsolo, especialmente nas vias principais. As calçadas irregulares se tornam convites ao tropeço, desafiando idosos e crianças, enquanto o ronco incessante de motocicletas ruidosas substitui o merecido silêncio por um tormento auditivo constante. E a fiscalização? Parece um teatro ensaiado: tudo desaparece instantes antes de sua chegada e ressurge assim que viram as costas. Um jogo de cena no qual o cidadão é mero espectador involuntário.
E o cenário social? A desigualdade se evidencia a cada esquina. Pessoas em situação de rua são tratadas como invisíveis, um problema que se avoluma porque, há anos, gestores públicos – prefeitos e vereadores – preferem fingir que não existe. Mas ignorá-los não resolve nada. A realidade pulsa, cresce e se torna impossível de esconder.
A decadência urbana também se reflete na paisagem. O Centro de Ipatinga clama por uma revitalização que nunca chega. Os prometidos calçadões para pedestres jamais saíram do papel. O odor persistente da rede de esgoto – um incômodo que já dura 50 anos – perpetua a irônica associação entre o cheiro desagradável e o apelido “Catinga” de Ipatinga, sem qualquer perspectiva de solução. Prédios comerciais abandonados, fachadas sujas e arquitetura datada transformam o setor comercial em um retrato de descaso. E, ao cair da noite, o cenário se agrava: ruas desertas, sem vida social, tornam-se um ambiente hostil e inseguro, onde a escuridão encobre não apenas a ausência de lazer, mas também a marginalidade crescente.
Neste momento, recordo a icônica campanha do boneco Sujismundo, criada em 1972 pelo ilustrador paulista Ruy Perotty. A figura desleixada conquistou o público brasileiro, tornando-se símbolo de sujeira e descaso na campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”, promovida pelo governo federal para incentivar a higiene e a preservação dos espaços públicos.
Quase meio século depois, a impressão é de que Sujismundo precisa voltar – ou talvez nunca tenha nos deixado. Ipatinga, com seus contrastes, precisa decidir se continuará sendo um palco de negligência ou se, finalmente, assumirá seu papel como uma cidade desenvolvida, digna de seus moradores.