Por Marcelo Saraiva Guimarães Libanio (*)
“A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.” – Santo Agostinho.
Assim também é com a inovação: ela geralmente nasce do desejo de mudança, seja a partir de uma nova percepção ou de algo que incomoda e precisa ser transformado. A inovação e a esperança devem andar lado a lado. Santo Agostinho fala sobre a esperança, mas inovar também exige coragem! Coragem, porque, como veremos ao longo do texto, a inovação enfrenta barreiras significativas.
Quando pensamos em inovação, é comum associá-la imediatamente à criação de novos produtos. Contudo, a inovação vai muito além disso. Existem outros tipos, como a inovação de processo, de marketing e organizacional. Apesar de muitos estudiosos sempre colocarem a inovação de produto em primeiro lugar, hoje decidi fazer diferente. Afinal, como sou um pouco “do contra” (risos), quero começar por aquilo que geralmente vem por último: a inovação organizacional.
Por que começar por aí? Porque a inovação organizacional é como preparar o terreno para o plantio de uma lavoura. Assim como o agricultor precisa arar e adubar a terra antes de semear, a empresa precisa de um ambiente organizacional bem estruturado para que outros tipos de inovação floresçam. É ela quem frequentemente sustenta as inovações de produto, processo e marketing, criando condições favoráveis para sua implementação.
Mas, afinal, o que é inovação organizacional? De acordo com o Manual de Oslo, trata-se da implementação de novos métodos organizacionais em práticas de negócios, no local de trabalho ou nas relações externas de uma empresa (OCDE, 1997). Não se trata necessariamente de usar novas tecnologias, mas de introduzir práticas inéditas que alterem positivamente a forma como a organização funciona. O objetivo? Melhorar a eficiência, a comunicação, a produtividade e a capacidade de adaptação às demandas do mercado.
O que sua empresa ganha com isso?
A inovação organizacional pode trazer inúmeros benefícios, como:
– Otimização de processos e redução de custos operacionais: Menos desperdícios e mais eficiência;
– Melhoria na comunicação interna: Informações fluem melhor, e as equipes trabalham de forma mais coordenada;
– Adaptação mais rápida às mudanças de mercado: Respostas mais ágeis às demandas dos clientes;
– Gestão de talentos: Promove engajamento e incentiva a inovação individual e coletiva.
Empresas que investem em inovação organizacional têm maior capacidade de adaptação e competitividade. A longo prazo, essas mudanças fortalecem a posição da empresa no mercado.
Um exemplo prático em Muriaé
Na empresa Mecânica Super Impacto, em Muriaé, gerida pelo Gerente Leonardo Soares, durante meu primeiro ciclo de trabalho com 25 empresas, realizamos um diagnóstico que revelou, entre outros, um problema que foi priorizado: a comunicação entre a gerência e os funcionários era ineficiente, o que prejudicava a gestão das demandas de serviço nos automóveis. Além disso, os clientes tinham dificuldades para conversar com o gestor Leonardo devido ao barulho da oficina, já que a sala da gerência era um espaço improvisado e mal isolado.
Para resolver isso, sugerimos a implementação do Kanban, uma ferramenta ágil que organiza visualmente as tarefas em um quadro. Decidimos, então, que essa ferramenta fosse instalada em novas paredes de vidro, que serviriam também como isolantes contra o ruído da oficina. Explicamos o conceito, realizamos protótipos em cartolina e blocos autoadesivos e testamos, ajustamos e validamos o modelo em uma das paredes de vidro. De repente, as mudanças começaram a surgir: tanto os funcionários quanto o gerente passaram a registrar as demandas no quadro, indicando o status de cada serviço. Mesmo que alguém estivesse fora da oficina, todos podiam verificar em que estágio cada carro estava.
Os resultados foram surpreendentes: além de melhorar a comunicação interna, houve um aumento de 54% na produtividade por funcionário. O gerente passou a responder com precisão às dúvidas dos clientes, os funcionários tinham por escrito uma lista de afazeres, e a empresa começou a analisar melhor a sazonalidade da demanda pelos seus serviços, entre outras melhorias.
A coragem de inovar
Como dizia Santo Agostinho, a esperança exige coragem. No caso da inovação, isso também é verdade. Isso porque há barreiras consideráveis na implementação de mudanças organizacionais, como:
– Resistência interna às mudanças: Equipes e gestores, acostumados a métodos tradicionais, podem relutar em adotar novas práticas;
– Custos iniciais: Implementar novos sistemas ou práticas pode demandar um investimento;
– Requalificação e mudanças culturais: É necessário treinar os colaboradores e mudar a mentalidade da organização.
Apesar dos desafios, os resultados fazem valer o esforço! Inovação organizacional é, acima de tudo, um investimento na capacidade de a empresa se reinventar e prosperar. É ter esperança de uma boa colheita e coragem para preparar o terreno para um futuro mais próspero. Fica aqui também os meus parabéns à empresa Super Impacto e a coragem do Leonardo em encarar de frente este desafio de quatro meses e conquistar um resultado tão significativo.