Marcelo Dilla (*)
Se tem algum estado do Brasil onde o mistério se mistura com minério, este é Minas Gerais. Realmente, aqui tudo é diferente do restante do país, inclusive esta história que vou contar, ocorrida em nossa capital, Belo Horizonte.
No final dos anos 60, um novo bairro surgia por entre as montanhas da Serra do Curral – que cercam boa parte da capital mineira -, o bairro Mangabeiras. Apesar de novo, o bairro, pouco antes de existir Belo Horizonte, era uma grande fazenda, onde garimpeiros e aventureiros extraiam o ouro.
Coincidentemente nos anos 60, os lotes do novo bairro passaram a ser comprados pela classe média alta de BH. De importante mesmo, neste local, só havia um prédio famoso, o Palácio das Mangabeiras, que desde 1955, passou a ser a residência oficial dos governadores mineiros. A nova residência oficial, segundo a lenda, foi criada por causa de “supostos fantasmas que habitavam” o tradicional Palácio da Liberdade.
Assim, no início dos anos 70, o Mangabeiras começou a mostrar a sua cara, com o surgimento das “mansões”, algumas delas, de moradores ilustres da capital mineira. Logo, o novo bairro foi se expandindo, com inúmeras obras, sendo a de maior destaque a sede da Rádio Jornal do Brasil (a primeira FM de Minas Gerais), edificada próximo ao Palácio das Mangabeiras, em 1975.
Foi aí que tudo começou… Após a inauguração da Rádio JB FM em uma rua sem saída, muitos belorizontinos, inclusive eu, iam até lá principalmente à noite, para ver o visual maravilhoso de toda a capital mineira. Anos depois, foi construído no local o Mirante do Mangabeiras, fazendo com que aquele ponto se transformasse numa das principais atrações turísticas de BH.
A ocupação do bairro foi se acelerando, com a criação de várias ruas e avenidas. Ainda, em meados dos anos 70, surgiu uma rua que iria mudar de vez, a história da capital mineira: “a Rua do Amendoim”, cujo nome oficial é Rua Professor Otávio Magalhães.
Um visitante curioso, certo dia, percebeu que aquela rua aparentemente de aclive/declive, tinha algo misterioso. Os carros não conseguem descer desengrenados e sobem, mesmo que devagar, em ponto morto.
A notícia se espalhou rapidamente e o local se transformou na maior atração turística de Belo Horizonte. Carros e mais carros passavam pela rua de dia e de noite, com aquele “efeito estranho” causando um frenesi entre os jovens da capital.
TVs, rádios e jornais de Belo Horizonte começaram a fazer cobertura do inédito fato, espalhando a notícia. Em pouco tempo, a capital mineira se tornou alvo da atenção mundial. Por incrível que pareça, naquela época estiveram em BH físicos, geólogos, matemáticos, militares, agentes da Nasa, rabinos, padres, pastores, budistas, historiadores, estudantes, caçadores de OVNIs e todos os tipos de curiosos.
Depois de alguns anos de estudos, tanto na parte científica quanto espiritual, chegou-se à conclusão que, o que acontecia na Rua do Amendoim não era magnetismo, ação de ET e muito menos fantasmas. Era apenas um raro efeito de “ilusão de ótica”, registrado em apenas três lugares do mundo, um deles em Belo Horizonte.
O número de turistas na Rua do Amendoim, naquela época, foi muito superior ao do complexo arquitetônico da Pampulha e Mineirão juntos. Era uma loucura. No entanto, em meados de 1979, as visitas noturnas à Rua do Amendoim, registraram uma queda acentuada por causa de um trágico assassinato que lá ocorreu. O vigia de uma obra foi executado pelo famoso Ramiro, o Bandido da Cartucheira. Cito isso com muita tristeza, pois o vigia era meu conhecido e vizinho no Bairro Prado, em BH.
No entanto, apesar da poeira ter baixado, até hoje a Rua do Amendoim continua como uma das principais atrações turísticas da capital mineira.
(*) Marcelo Dilla é cronista, autor do livro “100 Casos, Sem Fakes” e guitarrista e vocalista da banda Creedence Cover