Sérgio Moreira (*)
Neste ano, comemora-se 140 anos de imigração libanesa no Brasil. Segundo o professor Dr. Roberto Khatlab, diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina da Universidade Saint-Esprit de Kaslik (USEK) e pesquisador no Centro de Estudos da Emigração Libanesa da Universidade Notre Dame, no Líbano – a quem eu conheci pessoalmente no país dos cedros –, essa imigração começou oficialmente em 1880, após a visita do Imperador do Brasil, Dom Pedro II, ao Oriente Médio. Em Beirute, D. Pedro teria feito o convite àquele povo, trabalhador e resiliente, para fazer do Brasil uma terra promissora e a sua nova casa.
O convite foi aceito por aquelas pessoas que estavam imersas em conflitos e miséria, além da dominação estrangeira: O Império Turco Otomano governava a região com punhos de ferro e se envolvia em inúmeras disputas por território na região, os obrigando a lutar uma guerra que não pertencia a eles.
Como resultado, esses imigrantes foram buscar refúgio em outros países, chegando com o passaporte emitido pelo dominador. No documento constava “turco”, como nacionalidade o que deixava essas pessoas entristecidas, pois eles na verdade eram “sírio-libaneses”. Síria e Líbano só iriam se desmembrar como países após o Tratado de Sykes-Picot, firmado em 1918.
Os libaneses que aqui chegavam, para sobreviver começaram a trabalhar como mascates, levando mercadorias a vários rincões do Brasil. Os estados que mais receberam imigrantes libaneses foram São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará e Goiás.
Hoje, cerca de 4% da população brasileira é composta por libaneses e seus descendentes. É a maior diáspora no mundo: são aproximadamente 10 milhões de descendentes em nosso país. Fato curioso: há mais libaneses no Brasil do que no próprio Líbano, que soma 5,9 milhões de habitantes, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Foram inúmeras as contribuições que essa comunidade deu ao Brasil em diversos campos: comércio, medicina, política, artes, culinária. Por aqui já tivemos até mesmo um presidente da república filho de libaneses.
Segundo a Câmara de Comércio Líbano Brasileira de Minas Gerais, o Estado mineiro conta com mais de 2 milhões de descendentes. Eles se destacam em diferentes setores: comércio, locação de veículos, supermercados, bancos, culinária, artes, além de professores, médicos, advogados, financistas, engenheiros, políticos, entre outros.
Desde a morte de Chafic Kassis em 1992, então Cônsul do Líbano em nosso Estado, os libaneses mineiros estavam carentes de uma representação consular por aqui. Em 2019, assumiu então como Cônsul Honorário do Líbano em Minas Gerais, Edmundo Abi-Ackel. Ele se mostra muito prestativo com os patrícios e é um elo deles com a pátria mãe.
A presença libanesa também é marcante no Vale do Aço. A colônia contribuiu significativamente como pioneiros na região. Jamill Selim de Salles esteve à frente da Prefeitura de Ipatinga por três mandatos. José Jorge Chain foi presidente da Câmara Municipal de Ipatinga, secretário Municipal de Obras e chefe de gabinete do prefeito Jamill. William Ibraim Saliba foi funcionário da Usiminas, sendo também uma das lideranças comunitárias de Ipatinga, nos anos de 1960. É pai do vice-presidente da Associação Cultural Líbano Brasileira de Minas Gerais (ACLB-MG), o jornalista William Saliba; e do diretor da entidade, o gourmet Sérgio Saliba.
Tufik Trad Lauar foi um dos responsáveis pelo surgimento e consolidação da Rua do Mercado ou Rua do Comércio, que posteriormente se transformaria na Avenida Vinte e Oito de Abril. Os Tufik Lauar tiveram influência importante na vida cultural de Ipatinga e foram precursores no comércio local, bem como nos terminais de transporte e infraestrutura. Ele é pai das diretoras da ACLB-MG, Vera e Nely Tufik Lauar. Os Chálabi Calazans se destacam na medicina e culinária. Os Salmen, originários da região do Chouf, no Líbano, também estão presentes no comércio. São outras importantes famílias de origem libanesas presentes no Vale do Aço: Farage, Charaf, Chamon, Elias, Salim, Said, Zaidan, Chaiben, Elmas, Xaia, Cury e Calili.
Neste 22 de novembro, todas essas pessoas se juntam aos demais patrícios do Brasil para a comemorar a independência do Líbano, país que há mais de 7 mil anos vem contribuindo – com trabalho, força e alegria de viver de um povo resiliente – para o desenvolvimento do Brasil e do mundo. Viva o Brasil! Viva o Líbano!
(*) Sérgio Moreira é empresário, mestre em Metalurgia Extrativa, MBA em Comércio Exterior e é mestrando em Negócios Internacionais. Atua como presidente da Associação Cultural Líbano Brasileira de Minas Gerais (ACLB-MG) e também é delegado Regional da Câmara de Comércio Líbano Brasileira de Minas Gerais (CCLB-MG)