Moradores de Revés do Belém, distrito de Bom Jesus do Galho, ocuparam na tarde da última sexta-feira (22) a rotatória de acesso à localidade, exibindo cartazes com reivindicações da população encabeçadas pela instalação de rede elétrica na Fazenda Bom Jesus. No subdistrito de Revés, criado há mais de dez anos, residem aproximadamente 200 famílias que sofrem com a falta de energia. “Sou insulinodependente, preciso manter minha medicação resfriada. Sem energia, é um desafio muito grande. Preciso me deslocar para casa de pessoas que têm luz elétrica para levar e buscar minha insulina todos os dias”, conta José Pires, que diz ter sido enganado pela Cemig. “Providenciei toda a documentação que a empresa me solicitou, mas o esforço foi em vão. Continuo no escuro e sem previsão para ter minha energia ligada”.
Maria das Graças Lemes, que reside em Revés do Belém há quatro anos, reclama da falta de energia elétrica, da falta de medicamentos no posto de saúde local, da dificuldade em agendar consultas pela rede municipal de saúde e ainda da falta de uma casa lotérica onde ela possa fazer movimentações bancárias. “Essas são as necessidades básicas de qualquer pessoa, principalmente o acesso à assistência à saúde, ainda mais pessoas com doenças crônicas. Meu marido sofreu um AVC e estamos perdidos, abandonados aqui em Revés”, comenta Maria.
Adão Rodrigues da Cruz reclama da longa espera pela ligação da energia em sua residência. “Já paguei pelo serviço e continuo sem luz. Tenho 73 anos de idade e estou cansado de esperar pela boa vontade da Cemig e do poder público que não faz nada para mudar essa situação”.
LAMPARINA
Gielton de Assis, que há oito anos trabalha em Revés, voluntariamente, com uma comunidade terapêutica de acolhimento de pessoas com transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas, conta que possui uma casa em construção no distrito, “mas sem condições de ser acabada por falta de energia. Desanimo com a localidade ao ver, como outro dia, pais acordando com lamparina para tocar uma cobra que foi encontrada no quarto de suas crianças. Animais peçonhentos gostam de escuro. Eles representam um risco para nós. Com a falta de energia, não há como mantermos os alimentos armazenados por muito tempo também. Além do mais, sofremos em Revés com a poeira das estradas em péssimas condições de tráfego e com o que precisamos desembolsar para manter veículos judiados com essas vias”.
“Sofremos com o descaso dos poderes municipal e estadual, por isso, vamos manter este movimento e buscar fortalecer a cada dia mais nossas campanhas por um Revés melhor”, diz José Domingos de Laia, morador de Revés há dez anos.
Geraldo Reis, que reside no distrito há 50 anos, reclama da falta de uma UPA 24 horas na região, de uma UTI móvel. A falta de saneamento básico também compõe a lista de reivindicações defendidas pelo munícipe. “O esgoto corre a céu aberto pelo distrito, que já tem seu lençol freático contaminado. Outro problema é a opressão do governo municipal contra quem não votou nele. Meu filho precisa respirar. Ele tem problema de adenoide, precisa de uma cirurgia, mas nunca conseguimos. Estamos perdidos.”
Patrick Martins destaca que a manifestação objetivou chamar a atenção do Legislativo e do Executivo de Bom Jesus. “São pessoas que foram eleitos pelo povo e que têm condições de ajudar a comunidade a solucionar os problemas difíceis que estão enfrentando, como a falta de energia e o déficit de medicamentos no posto, de ambulâncias, de atendimentos na saúde. Nosso movimento vem chamar a atenção para essas questões que precisam ser resolvidas urgentemente”.
Direito de moradores da Fazenda Bom Jesus, que estão sem energia elétrica, um problema que persiste há mais de dez anos. “São idosos, crianças e pessoas doentes com sua vida dificultada pela falta de luz, de condições ideais para armazenar seus alimentos, suas medicações”, frisa Edimar Ferreira da Silva.
ÁGUA
Leonir Ferreira reclama da água distribuída em Revés. “Já testemunhei fatos como rede de esgoto estourada contaminando a água que vai para as nossas caixas d’água. Minha família chegou a ser internada com infecção causada por água de péssima qualidade. Por isso, venho comprando água mineral, mas o custo é muito alto. Outro problema é a nossa rede de esgoto que sempre está entupida, resultado de serviço feito por quem não tem competência para isso”.
Erly Coelho diz que está decepcionado com os políticos que elegeu. “A administração municipal não faz nada diante do que prometeu durante sua campanha política. Não só o presente do distrito, mas o nosso futuro também está adoecendo. Falo das crianças que estão adoecendo em casa sem água tratada, nas escolas sem esgoto, sem iluminação. Votamos na esperança que os discursos do prefeito alimentou. Agora, tudo se perdeu. Estamos decepcionados”, disse o munícipe, acrescentando que a manifestação veio renovar a esperança da comunidade, “vítima do descaso do governo de Bom Jesus, que não realiza o que é preciso e nem dá satisfação ao povo. A atuação da gestão do município foi muito frustrada, pois a expectativa era muito grande diante das promessas feitas no período de campanha”, completa Erly.
A manifestação em Revés do Belém, que terminou às 17h com uma grande roda em volta do canteiro da entrada do distrito, ocorreu pacificamente. O movimento contou com o apoio da Polícia Militar.