Um navio de guerra dos Estados Unidos interceptou mísseis lançados pelo que a Marinha americana acredita ser de rebeldes houthis do Iêmen, uma facção xiita apoiada pelo Irã que disputa o poder no país ao sul da península Arábica.
Segundo o Pentágono, os mísseis eram provavelmente direcionados a Israel, ao norte. Os EUA prometeram apoiar o Estado judeu em sua guerra contra o Hamas, grupo terrorista palestino que matou 1.300 israelenses em um ataque devastador no dia 7 passado.
Logo depois, na noite dessa quinta (tarde no Brasil), uma base americana em Ain al-Asad (Iraque) foi atingida por drones e foguetes.
Os EUA têm ainda cerca de 2.500 soldados no país que invadiram em 2003, na função de consultores, mas a relação com o governo local é tensa e forças irregulares do Irã têm atacado suas posições tanto ali como na vizinha Síria. Há relatos de ataques também a instalações no território sírio, sem confirmação ainda.
No mar Vermelho, segundo relatos à imprensa americana, CNN à frente, o destróier lançador de mísseis guiados USS Carney abateu de dois a três mísseis vindos da costa de uma região dominada pelos houthis. A Marinha dos EUA faz patrulhas constantes em toda a região. O problema é o momento.
O governo de Joe Biden enviou para o Mediterrâneo oriental, junto à costa israelense, um grupo de porta-aviões, com um segundo a caminho. O motivo alegado é dissuadir o Irã de se envolver na guerra que Israel trava contra o Hamas, que é apoiado por Teerã.
Como fiador do Hamas e do Hizbullah, ainda mais poderoso grupo anti-Israel baseado no sul do Líbano, o Irã foi alertado de que o poder de fogo naval americano poderia atingir seus prepostos -ou mesmo o país persa, embora essa seja uma hipótese escalatória por ora apenas na lista de temores.
Com efeito, o Hizbullah está promovendo ataques seguidos no norte de Israel desde que a situação regional se agravou, visando estabelecer limites de lado a lado, o que pode dar errado e disparar um conflito maior. Nesta quinta, houve nova e intensa troca de fogo, com os libaneses enviando cerca de 20 foguetes contra posições de Israel, a maior barragem na crise atual.
Os houthis do Iêmen vivem uma guerra civil com o regime autoritário local desde 2014. No ano seguinte, a Arábia Saudita, rival do Irã, interveio em favor da ditadura acossada do país árabe. Segundo a ONU, talvez 80% dos 4,5 milhões de iemenitas foram deslocados de suas casas pela guerra, que matou algo como 350 mil pessoas.
Desde que a China promoveu a reaproximação entre Riad e Teerã, algo consumado no restabelecimento de relações diplomáticas neste ano, o esforço para pôr fim ao conflito foi intensificado -uma delegação houthi foi recebida na Arábia Saudita no mês passado.
Agora, a guerra em Israel jogou areia em todo o processo, ainda que haja uma linha aberta entre iranianos e sauditas, os verdadeiros poderes por trás dos beligerantes. O episódio com o navio gera apreensão, caso sejam confirmadas a autoria e a intenção, devido ao clima geral no Oriente Médio, onde os EUA têm cerca de 30 mil militares estacionados.
Na véspera, o presidente russo, Vladimir Putin, havia jogado com essa preocupação ao dizer que caças armados com mísseis hipersônicos passariam a patrulhar uma área do mar Negro, 1.300 km ao norte, com capacidade de monitorar e alvejar os navios americanos no Mediterrâneo oriental -notadamente, o mais novo e maior porta-aviões dos EUA, o USS Gerald Ford.
O navio do incidente desta quinta, o USS Carney, havia entrado no mar Vermelho na quarta vindo do canal de Suez (Egito), segundo a Marinha americana para “ajudar a estabilidade do Oriente Médio”. Os mísseis que interceptou vieram da costa do antigo Iêmen do Norte, dominada pelos houthis.
O incidente eleva o temor de que a guerra em Israel se transforme num sangrento conflito regional. Os sauditas vinham se aproximando de Tel Aviv, a quem não reconhecem, na esteira dos acordos do Estado judeu com países como os Emirados Árabes Unidos, em 2020.
A ação do Hamas teve o condão de colocar em risco todo o plano, dado que país árabe algum pode ser visto como muito amigo de Israel neste momento em que civis palestinos morrem sob bombas na Faixa de Gaza, hipocrisia de todos os lados à parte.
O incidente no Iêmen traz ecos do ataque terrorista com um bote suicida contra o USS Cole, um destróier da mesma classe do USS Carney. Em 2000, um ano antes do 11/09, a rede terrorista Al Qaeda de Osama bin Laden (1957-2011) conseguiu matar 37 marinheiros no navio com uma explosão, que danificou seu casco, enquanto o Cole abastecia em Aden, porto no Iêmen.