Por William Argolo Saliba (*)
Segundo um posicionamento da Academia Americana de Medicina do Sono (AASM), as mudanças sazonais entre o horário padrão e o horário de verão devem ser abolidas em favor de um horário padrão nacional fixo durante todo o ano. A recomendação se baseia em evidências de que a transição aguda para o horário de verão na primavera acarreta significativos riscos à saúde pública e à segurança.
O estudo aponta que a alteração está associada a aumento do risco de eventos cardiovasculares adversos, transtornos de humor e acidentes de trânsito. Embora os efeitos crônicos de permanecer no horário de verão o ano todo não tenham sido bem estudados, ele está menos alinhado com a biologia circadiana humana. Isso poderia resultar em desalinhamento circadiano, que tem sido associado a maior risco de doenças cardiovasculares, síndrome metabólica e outros riscos à saúde.
De acordo com Muhammad Adeel Rishi, médico do Departamento de Pneumologia, Cuidados Críticos e Medicina do Sono da Clínica Mayo em Eau Claire, Wisconsin, a luz é o zeitgeber (sinal) mais poderoso para a regulação do ritmo circadiano. “O horário de verão induz atraso de fase ao aumentar a exposição tanto à escuridão matinal quanto à luz noturna”, explica.
Alguns dos efeitos adversos agudos observados na mudança para o horário de verão incluem aumento do risco de infarto do miocárdio, AVC, admissões hospitalares devido a fibrilação atrial, além de aumento de consultas médicas perdidas, visitas a emergências e retornos ao hospital. Também são relatados prejuízos no sono, distúrbios de humor, suicídio e aumento de acidentes de trânsito nos primeiros dias após a transição.
Embora a maioria dos estudos tenha avaliado os impactos agudos, algumas evidências sugerem possíveis efeitos crônicos adversos do horário de verão, como aumento do risco de obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e depressão. O desalinhamento crônico entre o relógio biológico e as demandas sociais, chamado de “jet lag social”, pode ser pior em áreas mais a oeste dentro de um fuso horário.
Portanto, com base nas evidências científicas disponíveis, a AASM recomenda que as mudanças sazonais de horário sejam abolidas em favor de um horário padrão nacional fixo durante todo o ano. Tal medida alinha-se melhor com a biologia circadiana humana e tem o potencial de produzir efeitos benéficos para a saúde pública e segurança.
(*) William Argolo Saliba é químico, mestre em Química Orgânica, especialista em Teologia, autor de diversos artigos e livros científicos e terapeuta holístico.
Referência:
RISHI, M. A. et al. Daylight saving time: an American Academy of Sleep Medicine position statement. Journal of Clinical Sleep Medicine, v. 16, n. 10, p. 1781-1784, 2020.