Por Walter Biancardini
Na verdade, a história do Brasil foi completamente reinventada após o golpe de estado que destronou um monarca legítimo e amado pelo povo, colocando no lugar uma feroz e medíocre ditadura militar.
Por conta de uma dor de cotovelo mal curada, um marechal doente e – pasmem – monarquista, dizendo-se “amigo” de Dom Pedro II, ergueu a espada e limitou-se a demitir o Primeiro-Ministro do Império Brasileiro. Mas isso não satisfez a ferocidade de um Benjamin Constant – líder republicano e arquiteto do golpe – que inventou a mentira que o imperador nomearia, para o cargo vago, o homem que roubara seu amor da juventude, chamado Gaspar Silveira Martins.
Isso foi o suficiente para que o Exército – não o marechal, mais ocupado em tratar de sua doença e bordar guardanapos – adentrasse o Palácio e depusesse o monarca, deportado junto com a família na calada da noite, para que o povo não se revoltasse.
No navio, uma tímida comitiva veio oferecer à Dom Pedro vultosa quantia “indenizatória”, mas, com toda a pompa e circunstância que a polidez de um nobre exige, o imperador sugeriu que enfiassem o dinheiro onde o sol não brilha. Logo após, o comandante da Marinha Imperial – quarta maior Marinha de Guerra do mundo, naqueles gloriosos dias – ofereceu-se para bombardear o Rio de Janeiro e depor os golpistas.
Novamente e demonstrando sua nobreza de coração, desapego ao poder e amor ao Brasil, Dom Pedro recusou e permaneceu em seu camarote, até que chegassem a Paris.
Poucos anos depois faleceu, triste e pobre, deixando um país onde construíra uma das maiores forças de guerra do mundo, prodigiosa – para a época – rede de ferrovias, imprensa absolutamente livre e até mesmo a implantação de modernidades, como os primeiros telefones.
Desnecessário comentar sobre nossa pútrida e infeliz república – nada mais que uma sucessão de golpes de estado, ditaduras e ascensão de clamorosas mediocridades ao poder, tal como vivemos hoje.
Tivemos a ditadura da espada (nos primeiros anos de república), depois a política do café-com-leite, a ditadura Vargas, a ditadura militar dos anos 60 e, finalmente, a ditadura narco-jurídico-comuno-globalista atual, escorada em feitiços gramscistas ainda eficazes, que emburreceram e entorpeceram os cérebros de gerações e gerações de brasileiros.
Não há por que comemorar o mal. Não há motivos para festejar o atraso e o obscurantismo. Impossível louvar as trevas, sabendo da existência da luz.
O dia 15 de novembro, mais que comemorativo de um golpe de estado, é data de vergonha nacional onde povo e instituições sequer sabem, por completo, sobre o papel de verdadeiros cativos os quais se prestam atualmente.
Nada comemorarei, pois hoje é dia de trevas.
(*) Walter Biancardine é jornalista, analista político e escritor. Foi aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho, autor de três livros e trabalhou em jornais, revistas, rádios e canais de televisão na Região dos Lagos, Rio de Janeiro