Por Walter Biancardine (*)
Confesso meu desapontamento ao percorrer as principais redes sociais e perceber a gritante incapacidade de concentração, objetividade e compreensão dos acontecimentos, pelo usuário médio.
Usando como exemplo a recente agressão de José Luis Datena sobre Pablo Marçal em um debate, salta aos olhos a polarização evidente e, pior, primária daqueles que comentam o acontecido: uns defendem a “cadeirada” pelos motivos os mais torpes, enquanto outros – e incluo analistas famosos – a condenam alegando que tal comportamento não é democrático e representa uma espécie de “censura”, brutal e violenta, ao direito opinativo do próximo.
Para descer ainda mais o nível, quem justifica a agressão é classificado como “eleitor do Nunes” e, quem a condena, taxado de “apoiador do Marçal”. Em outras palavras, ou se é Flamengo ou Fluminense, tentar incluir o Vasco na discussão é “mimimi” de esquerdista enrustido.
Tenho, por hábito e dever de ofício, o costume de utilizar as redes não somente para saber o que as pessoas comentam como, igualmente, para divulgar meu trabalho. No caso refiro-me ao artigo de ontem, onde discorri sobre a fatídica “cadeirada” e busquei lembrar ao leitor – mais especificamente aos do sexo masculino – que existem limites tácitos, costumeiros e consensuais para as ofensas e que, uma vez ultrapassados, tornam-se claro desafio e chamado para as vias de fato.
Ao alegar que, em meu entender, Pablo Marçal havia ultrapassado tais limites, muitos leitores objetaram acusando-me de “eleitor do Nunes”, “gado bolsonarista”, e que tentava eu justificar o injustificável. Pois bem: sequer voto na cidade de São Paulo, não sou eleitor de ninguém e jamais tentei justificar nada – meu objetivo era explicar, não justificar.
Por outro lado – e em quantidade muito menor que a insondável multidão adestrada por Marçal – os defensores de Datena acusavam-me de “trair Bolsonaro ao apoiar um candidato (Pablo) que ele não indicou”. “Trair” Bolsonaro? Tenho eu algum acordo com ele?
Em meio a toda essa miséria e desinteligência, ninguém buscou ler – e entender – o quê realmente escrevi. Em minhas análises vejo a aridez oferecida ao eleitor paulistano, dividido entre um marqueteiro sem consistência e oportunista como Pablo Marçal, um vaidoso esquerdista e bipolar como José Luis Datena e uma espinha nas gargantas conservadoras chamado Ricardo Nunes. Para piorar, existe o invasor de terras Guilherme Boulos e a pupila do sr. Lemann, Tábata Amaral. Quem sobra? Apenas Marina Helena, a qual muitos poderão suspeitar de sua origem paterna mas que – isto é fato – é a única, até o momento, que apresentou um real e conservador programa de governo para a cidade de São Paulo. E esta é a síntese de meu artigo de ontem, onde tudo enxergaram, menos isso.
Meu trabalho de jornalista, agravado por ser eu diletante da filosofia, impede-me a filiação partidária ou mesmo a adoção de ideologias, uma vez que toda e qualquer análise, feita por mim em tais condições, seriam necessariamente contaminadas por algum viés. Por outro lado reconheço que meus pendores conservadores não se devem apenas ao catolicismo que creio mas, principalmente, por não enxergá-lo como “ideologia”, uma vez que o considero apenas como o resultado da vida em sociedade, através dos milênios.
Entretanto, o que vejo? Ao ler a quantidade de disparates, exaltações ou condenações verdadeiramente xiitas e fanáticas nas redes sociais, concluo esgotadas todas as minhas esperanças.
Acreditei, um dia, que a estupidez em determinadas plataformas – algumas delas hoje proibidas no Brasil – era causada por militantes esquerdistas que as empesteavam, mas agora vejo que todos são, de modo geral, maniqueístas e até mesmo idólatras, ao ansiarem um Bezerro de Ouro para adorar.
Não me conformo, recuso-me a admitir que o futebol, novela e BBB sejam os formadores da opinião e destino dos brasileiros. E se outros pensam tal como eu, que igualmente busquem a melhor forma de arejar tantas cabeças enevoadas por quase um século de mídia podre e senso comum positivista.
Temos um longo e árduo caminho pela frente.