Por Walter Biancardini (*)
Apontado como certo na sucessão da Presidência do Senado, Davi Alcolumbre não goza melhor reputação que o atual titular, Rodrigo Pacheco. Se temos hoje alguém inerte, engavetador de processos de impeachment largamente exigidos pelo eleitor brasileiro e tido como alguém incapaz de maiores ousadias, seu provável sucessor nos traz à memória exatamente o oposto: uma pessoa disposta a fazer qualquer coisa por seus interesses, imprevisível e altamente propenso à “acordos” que se afigurem compensadores às suas ambições.
Por conta de tamanha ameaça, a oposição – somada a mais alguns outros – já se articula para propor resolução que impeça a exclusividade, detida pelo presidente do Senado, em pautar pedidos de impeachment, por exemplo. Tal manobra, alegam eles, seria extremamente útil em momentos como os que atravessamos, onde o clamor pela queda de Alexandre de Moraes de seu posto no STF tornou-se ensurdecedor e uníssono. Para resolver tal impasse, bastaria formar maioria de senadores e – eles sim – decidiriam pautar e proceder ao processo de impedimento de Ministros ou, até mesmo, Presidentes da República como o Sr. Lula da Silva.
Mas é justamente aí que reside o problema: a mesma proposta que permitiria aos congressistas votarem – e nos deliciarem com – o sumiço republicano de Alexandre de Moraes e até mesmo (sonhar é de graça) o despejo de Lula da cadeira presidencial, por outro lado pode ser terrivelmente utilizado em circunstâncias futuras, se desfavoráveis ao “consórcio” dominante no Planalto.
Basta, ao leitor, imaginar o que teria acontecido a Bolsonaro, durante seu mandato como Presidente, se tal poder estivesse já nas mãos dos senadores.
Um Congresso que permitiu-se encerrar por duas vezes suas atividades – o mesmo foi literalmente fechado pelos dinheiros do Mensalão e, agora, pelo temor e subserviência ao STF – não seria a instituição mais confiável para nos fiarmos na necessidade de formação de maioria, para expulsar um dos nossos.
Quem, ou o quê, garantiria esta maioria? “Acordos políticos”? O infame “consenso”?
E como isso seria demonstrado ao eleitor, para que ele soubesse que é a vontade do povo? As eternas e inconfiáveis “pesquisas de opinião”? Reportagens das emissoras de TV e jornais da grande mídia? Seriam eles – mais uma vez – os álibis para procedimentos fraudulentos nos bastidores governamentais?
Há que se resistir ao açodamento de soluções supostamente salvadoras, sempre lembrando que as mesmas poderão – e serão – usadas contra nós. E a deprimente existência de um Pacheco ou Alcolumbre, alternando as cadeiras mais importantes do Senado, não pode nos impelir rumo ao precipício: outras soluções – e não arrisco conjecturar quais – devem ser encontradas.
Em matéria de congressistas sub-qualificados é ponto pacífico que estaremos trocando seis por meia dúzia, mas o vasto elenco de incapazes em Brasília não se deve apenas à nossa ignorância, pois suas raízes atingem profundidades tais como a obrigatoriedade de filiação à partidos políticos para viabilizar candidaturas, o que entrega nas mãos dos “donos” das legendas o poder de escolher os imbecis mais destacados ou os melhores e notórios militantes venais, disponíveis no mercado.
Pouco ou nada adiantarão reformas políticas, emendas constitucionais ou outros remendos, piores que o soneto original de 1988.
Enquanto não reformarmos as nossas escolhas, nada mudará. Somente municiado de homens com valores e princípios poderemos aspirar mudanças que serão, seguramente, benéficas a todos.
Até lá, é gritaria e desespero.