Por William Saliba
As comunidades cristãs no Líbano e na Síria, duas das mais expressivas em um Oriente Médio amplamente muçulmano, vivem dias de apreensão diante de uma nova onda de instabilidade regional. Grupos extremistas islâmicos, com alegado apoio do regime teocrático do Irã, ameaçam diretamente a segurança dessas minorias religiosas, enquanto o equilíbrio de poder na região sofre mudanças dramáticas.
No Líbano, católicos maronitas e ortodoxos convivem com a tensão crescente entre o Hezbollah, organização considerada terrorista por diversos países, e as Forças de Defesa de Israel (IDF). O país, tradicionalmente visto como um mosaico religioso, tem enfrentado um desgaste nas relações comunitárias devido à radicalização de grupos armados que utilizam o território libanês para confrontar Israel.
Enquanto isso, na Síria, a situação é ainda mais alarmante. O recente colapso do regime de Bashar al-Assad, derrubado pelo grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), gera um cenário de incerteza e medo. Na madrugada do último domingo, 8 de dezembro, o HTS tomou o controle de cidades estratégicas, incluindo Aleppo, marcando o fim de cinco décadas de domínio da família Assad.
O HTS, que emergiu como sucessor da Frente al-Nusra — antiga afiliada da Al-Qaeda — tenta ganhar legitimidade política ao prometer proteção às minorias religiosas nas áreas sob seu domínio. Contudo, sua história de envolvimento com extremismo e acusações de crimes de guerra deixam a comunidade internacional e a população local em alerta.
Na cidade de Aleppo, um dos principais centros econômicos e culturais do país, o grupo busca estabilizar sua recém-adquirida posição de poder. O HTS já controla a região de Idlib, onde implementou um governo civil paralelo, mas enfrenta severas críticas por sua repressão a dissidentes e violações de direitos humanos.
Diante dessa nova realidade, o Arcebispado Maronita da Síria convocou os fiéis a permanecerem em oração na Catedral de Damasco, numa tentativa de fortalecer a resiliência espiritual da comunidade cristã. Temem-se represálias contra minorias, algo não incomum em momentos de transição política dominados por grupos extremistas.
A queda do regime Assad é um divisor de águas para o Oriente Médio. Embora muitos celebrem o fim de um governo amplamente acusado de autoritarismo, a ascensão do HTS reconfigura o tabuleiro geopolítico da região. Países vizinhos, como Israel e Turquia, monitoram de perto os desdobramentos, enquanto potências globais avaliam os impactos da mudança.
A população síria, devastada por mais de uma década de guerra civil, encontra-se dividida. Para alguns, a derrubada do regime Assad representa esperança. Para outros, a presença de um grupo com histórico de radicalismo e violência é motivo de temor sobre o futuro do país.
O desafio imediato do HTS é provar sua capacidade de governar um país fragmentado, devastado pela guerra e dividido em linhas sectárias. A comunidade cristã, com um legado histórico milenar na Síria, enfrenta uma encruzilhada: manter-se resiliente em meio à adversidade ou buscar refúgio em países mais seguros.
O momento exige atenção redobrada da comunidade internacional, que deve pressionar por garantias de proteção aos direitos humanos e por soluções diplomáticas que assegurem a sobrevivência das minorias religiosas no Oriente Médio.