Por William Saliba
O discurso do presidente Lula nesta semana, na Assembleia Geral da ONU evidenciou uma desconexão do Brasil com o cenário internacional. A falta de atenção global ao pronunciamento, acompanhada dos elevados custos da comitiva presidencial, levanta questionamentos sobre o papel do país na arena diplomática e o impacto do isolamento em sua política externa.
O debate de alto nível da Assembleia Geral da ONU tradicionalmente é um dos momentos mais aguardados do calendário diplomático global. Governantes do mundo inteiro se reúnem na sede da entidade em Nova York para discutir crises internacionais e propor soluções. O Brasil, por costume, tem a honra de abrir os discursos, uma tradição que remonta a 1947.
No entanto, o discurso de Lula na abertura desta edição passou quase despercebido, com apenas 8 dos 24 principais veículos de imprensa internacional cobrindo seu pronunciamento nas horas seguintes ao evento. Isso revela um fato inquietante: a liderança brasileira, outrora influente no cenário mundial, parece estar perdendo relevância.
A falta de destaque internacional não é apenas uma questão de vaidade diplomática, mas reflete o enfraquecimento do Brasil enquanto ator global. A apatia da imprensa estrangeira em relação ao discurso é um sintoma desse afastamento. O que antes era visto como um momento de protagonismo para o Brasil, agora se mostra como um espelho de sua irrelevância em face às grandes questões mundiais, como as mudanças climáticas, as crises migratórias e os conflitos geopolíticos.
A desimportância com que o discurso foi tratado pode ser resultado de fatores múltiplos. Por um lado, a própria ONU vive um período de desgaste, sendo criticada por sua incapacidade de solucionar crises globais como a guerra na Ucrânia, a pandemia de Covid-19 e o aquecimento global. Por outro lado, a imagem internacional de Lula sofre abalos, principalmente em países ocidentais, que veem com desconfiança seu relacionamento próximo com líderes de regimes autoritários e sua tentativa de manter o Brasil numa posição de neutralidade em conflitos internacionais.
Além da falta de repercussão, outro ponto que gerou desconforto foi o elevado custo da viagem da comitiva brasileira a Nova York. Com gastos já estimados em R$ 750 mil, e ainda sem todos os custos finalizados, a presença de mais de 100 pessoas, incluindo ministros e funcionários de órgãos públicos, levanta uma importante reflexão: quais os benefícios práticos para tamanho gasto?
A participação brasileira em um evento de tamanha magnitude deve ser estrategicamente pensada para gerar retornos diplomáticos e econômicos, o que, a julgar pela recepção internacional ao discurso de Lula, parece ter sido um investimento sem nenhum retorno.
A perda de relevância no cenário mundial tem consequências diretas para o país, que vai desde a dificuldade de atrair investimentos estrangeiros até a perda de voz em fóruns decisivos para o futuro do planeta.
A ausência de repercussão do discurso de Lula na ONU e o alto custo da comitiva são sintomas de um problema maior: a necessidade de redefinir o papel do Brasil no mundo. O isolamento, seja pela indiferença da imprensa estrangeira ou pela falta de resultados concretos, só prejudica o país e seus cidadãos.
E quem paga esta pesada conta do afastamento dos investidores estrangeiros, redução do mercado de trabalho, aumento da dívida pública e da fúria arrecadatória dos impostos é o pobre brasileiro.
Isso é um bom argumento para um conto de fadas: a história da picanha que virou abóbora e do gigante que se tornou um anão diplomático. O que acha?