Por William Saliba
A crise diplomática entre Brasil e Nicarágua alcançou novos patamares de tensão após o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, acusar Luiz Inácio Lula da Silva de traição. Durante a 11ª cúpula da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba-TCP), Ortega condenou a postura do governo brasileiro sobre a crise na Venezuela e criticou a administração de Lula por supostas práticas de corrupção e falta de transparência.
O ataque de Ortega contra Lula não se limitou apenas às questões diplomáticas, mas também às internas. Ao desferir críticas severas à administração brasileira, Ortega remeteu aos escândalos da Operação Lava Jato, sugerindo que a corrupção no governo de Lula comprometeu a credibilidade do país. Esse confronto direto revela um cisma crescente entre os governos de esquerda da América Latina, que antes se viam como aliados em uma luta comum.
O desentendimento surgiu após o Brasil contestar a legitimidade das eleições na Venezuela, apontando para uma possível falta de democracia no processo eleitoral conduzido por Nicolás Maduro. A crítica brasileira levou a Nicarágua a romper relações diplomáticas com o Brasil, e as tensões se intensificaram após o governo nicaraguense expulsar o embaixador brasileiro, Breno de Souza Brasil Dias da Costa. A decisão foi seguida pela reciprocidade brasileira, que expulsou a embaixadora de Nicarágua no Brasil.
Ortega também fez referência a uma tentativa de mediação feita por Lula após uma audiência com o Papa Francisco. Segundo Ortega, a tentativa de intermediação foi rejeitada pela Nicarágua, acentuando a crise diplomática. Esse episódio ressalta a fragilidade das alianças progressistas na América Latina, que agora enfrentam um dilema sobre como lidar com os desafios internos e externos sem sacrificar sua coesão política.
O embate entre Ortega e Lula não é apenas uma questão de divergências diplomáticas, mas também um reflexo das profundas divisões que permeiam a política latino-americana. A aparente quebra na aliança entre os governos de esquerda sugere que a solidariedade progressista está se fragmentando, colocando em xeque a capacidade dos países da região de formar uma frente unida contra adversidades comuns.
Ao que parece a união dos governos de esquerda latino-americanos acabou mesmo. Eles não mais se mantêm unidos pelo juramento dos três mosqueteiros (conto do romancista e dramaturgo francês Alexandre Dumas), “Um por todos, todo por um!”
– Touché, Maria Corina!