Por William Saliba
A Venezuela atravessa um momento de tensão extrema que pode desembocar em uma guerra civil. A recente eleição, amplamente contestada, consolidou Nicolás Maduro em seu cargo, mas o resultado não é reconhecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Enquanto a crise política se agrava, Maduro intensifica a repressão contra os opositores, cerca a embaixada da Argentina em Caracas, onde estão abrigados seis opositores e ordena a prisão de aproximadamente 800 manifestantes que protestam contra o resultado das urnas. Este cenário não é apenas um reflexo da crise venezuelana, mas também um eco das estratégias de poder que remetem a doutrinas políticas como o gramscismo e o avanço do socialismo na América Latina.
Antônio Gramsci, pensador italiano do início do século XX, desenvolveu conceitos que exploravam a dinâmica de poder e a hegemonia cultural, argumentando que a luta pela mudança social deveria ocorrer não apenas no campo econômico, mas também na esfera cultural e ideológica. Seus princípios, conhecidos como gramscismo, influenciaram diversas correntes políticas e movimentos, incluindo o Foro de São Paulo, fundado em 1990 com o objetivo de promover a integração e a colaboração entre partidos de esquerda na América Latina. A partir desse espaço, o socialismo conseguiu se expandir e ganhar força na região, apesar de suas muitas críticas e controvérsias.
No atual cenário venezuelano, observamos uma perversa ironia: enquanto Maduro se posiciona como defensor da vontade popular, sua permanência no poder está sendo sustentada pela força e pela repressão, características que, ironicamente, desmentem qualquer pretensão democrática. O governo cerceia liberdades civis, violando normas internacionais e agredindo a diplomacia, enquanto a comunidade internacional observa com uma combinação de preocupação e impotência.
A situação que se desenrola na Venezuela é um triste reflexo das dificuldades que a comunidade internacional enfrenta para lidar com regimes que se elegem por meio de processos eleitorais manipulados e perpetuam-se no poder através da violência. A abordagem mais eficaz contra tais regimes pode não residir apenas na condenação internacional, mas em ações mais incisivas que envolvam pressão econômica e diplomática. Além disso, é imperativo fortalecer e apoiar a resistência interna à opressão, fornecendo não apenas suporte moral, mas também recursos que possam ajudar a garantir que a voz do povo venezuelano seja finalmente ouvida e respeitada.
Em última análise, a crise venezuelana desafia o mundo a refletir sobre a eficácia das estratégias de intervenção e a necessidade urgente de um novo paradigma para lidar com regimes autocráticos. A liberdade e a justiça devem prevalecer, e a comunidade internacional deve estar disposta a agir com decisão e coesão para evitar que a Venezuela se afunde ainda mais em um abismo de repressão e conflito civil.
É fácil eleger um ditador pelo voto, o difícil é retirá-lo da mesma forma.