Israel rememora nesta segunda-feira (7) um ano do ataque do grupo terrorista Hamas, com dois eventos distintos que refletem as divisões internas do país sobre como lidar com a memória do trágico episódio. Enquanto famílias das vítimas organizam uma cerimônia pública em Tel Aviv, o governo prepara uma ação televisionada pré-gravada.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de 250 reféns, desencadeando uma guerra devastadora em Gaza. Um ano depois, a forma de lembrar esse dia trágico divide a sociedade israelense.
Em Tel Aviv, famílias que perderam entes queridos no conflito promovem um ato público em um grande espaço. Jonathan Shimriz, um dos organizadores e morador do kibutz Kfar Aza, duramente atingido no ataque, perdeu seu irmão, que foi feito refém e posteriormente morto por fogo amigo israelense ao tentar escapar. Shimriz afirma que o evento pretende abordar tanto as falhas quanto o heroísmo demonstrado naquele dia.
“Esse memorial contará a história do que passamos no dia 7 de outubro. Em que não havia Exército, mas havia soldados. Não havia Estado, mas havia cidadãos”, explica Shimriz, acrescentando que o memorial do governo provavelmente não mencionará os erros ocorridos.
Por outro lado, o governo israelense prepara uma cerimônia gravada, liderada pela ministra Miri Regev, aliada próxima do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A ministra argumenta que o evento oficial trará lembranças e valores como bravura e esperança. A cerimônia foi filmada na pequena cidade de Ofakim, próxima à fronteira com Gaza, que perdeu mais de 40 de seus moradores no ataque do Hamas.
A decisão de realizar dois eventos separados reflete as tensões políticas e sociais em Israel. Netanyahu, no poder durante a maior parte dos últimos 15 anos, enfrenta duras críticas por não assumir a responsabilidade pelas falhas militares e de inteligência que levaram ao ataque. O primeiro-ministro afirma que tudo será investigado após o fim da guerra, enquanto pesquisas de opinião mostram uma lenta recuperação de sua popularidade.
A cerimônia organizada pelas famílias das vítimas ganhou rapidamente apoio popular, com mais de 40 mil ingressos reservados em poucas horas após o anúncio. No entanto, devido a preocupações com a segurança e a possibilidade de ataques de mísseis do Hezbollah no Líbano, as autoridades militares limitaram o número de participantes a mil pessoas.
Essa divisão na forma de lembrar o dia mais sombrio dos 76 anos de história de Israel evidencia o desafio que o país enfrenta para lidar com o trauma coletivo e buscar a reconciliação interna. Enquanto alguns buscam uma abordagem mais crítica e reflexiva, outros preferem focar na resiliência e na união nacional.
O contraste entre os dois eventos também ressalta a complexidade do conflito israelo-palestino e suas consequências para a sociedade israelense. A guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas, continua a gerar debates acalorados sobre segurança, política e direitos humanos, tanto dentro de Israel quanto na comunidade internacional.