Por: William Argolo Saliba
O Sudário de Turim, um dos artefatos mais debatidos da história, continua a ser objeto de controvérsia científica. Dois estudos recentes oferecem perspectivas distintas, mas complementares, sobre a idade e a autenticidade do tecido que muitos acreditam ter envolvido o corpo de Jesus Cristo.
Um experimento conduzido por Patrice F. Dassonville, pesquisador francês, oferece uma abordagem espacial para questionar a autenticidade da imagem no Sudário. Utilizando uma escultura de cabeça, Dassonville demonstrou que ao aplicar pó de giz pastel em um tecido envolto em uma forma tridimensional e depois desenrolá-lo, a imagem resultante é distorcida e inconsistente. Este método sugere que a imagem no Sudário, ao contrário de um verdadeiro envoltório tridimensional, não poderia ter sido formada por contato direto com um corpo humano. A análise espacial, portanto, desafia a ideia de que o Sudário teria envolvido um corpo, sugerindo tratar-se de uma criação artística medieval.
Por outro lado, um estudo liderado por Liberato De Caro do Istituto di Cristallografia na Itália utilizou a técnica de Wide-Angle X-ray Scattering (WAXS) para reavaliar a idade do Sudário. Os pesquisadores analisaram a degradação estrutural da celulose em amostras de linho, comparando-as com tecidos de idade conhecida, como um fragmento datado da época do Cerco de Masada, em torno de 55-74 d.C. Os resultados indicaram uma degradação compatível com uma antiguidade de cerca de 2000 anos, desafiando a datação por radiocarbono de 1988 que situou o Sudário no século XIV.
Ambos os estudos levantam questões sobre a confiabilidade das técnicas de datação empregadas e a verdadeira origem do Sudário. Enquanto a análise de Dassonville sugere uma fabricação medieval, a pesquisa de De Caro aponta para uma possível antiguidade de 2000 anos. A divergência entre métodos de análise e datação ampliam o debate sobre a autenticidade do Sudário, alimentando tanto o ceticismo quanto a fé.
No contexto científico, esses estudos destacam a importância de múltiplas metodologias para abordar artefatos históricos complexos. As técnicas modernas, como o WAXS, oferecem novas maneiras de avaliar materiais antigos, enquanto abordagens práticas, como a de Dassonville, desafiam as suposições sobre a formação de imagens. Independentemente da conclusão sobre a origem do Sudário, esses estudos enriquecem a compreensão sobre a interação entre ciência, história e crença.
Referências:
Dassonville, P. F. “Spatio-Temporal Analysis of the Shroud of Turin.” Archives in Biomedical Engineering & Biotechnology, 2021.
De Caro, L., et al. “X-ray Dating of a Turin Shroud’s Linen Sample.” Heritage, 2022.
(*) William Argolo Saliba é professor universitário, mestre em Química, teólogo e terapeuta holístico, com livro e pesquisas publicadas internacionalmente