Na sociedade contemporânea, a definição de “rua” tem se transformado. Historicamente, a rua tem um viés negativo imposto pelo capitalismo, e as pessoas em situação de rua (PSR) foram invisíveis durante um longo período. Em Coronel Fabriciano, o desafio não é diferente dos demais municípios, mas, este público, recebe a atenção do poder público municipal.
Nessa segunda-feira (24), a Secretaria de Governança de Assistência Social apresentou o Diagnóstico Situacional das Pessoas em Situação de Rua para autoridades e representantes da sociedade organizada. O documento traz informações sobre perfil, como vivem, o que desejam e de onde vieram as pessoas em situação de rua na cidade.
As informações são essenciais para elaboração e ampliação das políticas públicas voltadas para estas pessoas.
“Os dados são importantes para termos uma leitura do cenário e projetar o orçamento no ano que vem. O objeto é entregar dados para outras instituições e setores para que possam propor coletivamente políticas públicas para a superação da população em situação de rua e a redução de danos para as pessoas que estão nas ruas de Coronel Fabriciano”, destaca a secretária de Governança de Assistência Social, Letícia Godinho.
A pesquisa em Fabriciano utilizou entrevistas semiestruturadas baseadas no Censo Pop Rua de 2019. Foi optado por uma metodologia quali-quantitativa, com análises sociológicas e psicanalíticas. Apenas a área urbana foi diagnosticada, devido à raridade de PSR em áreas rurais. O município foi dividido em quatro territórios para a coleta de dados.
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL
Segundo o levantamento, Coronel Fabriciano tem hoje 91 pessoas em situação de rua (2 a menos do levantamento feito em 2019). Deste total, 53 responderam à pesquisa. Todas estão registradas pelo serviço público.
Entre os apontamentos do diagnóstico, alguns dados se destacam:
– 64% “dormem” nas ruas do Centro de Coronel Fabriciano.
– Dos que responderam, 62,3% são nascidos em outras cidades
– 60,8% “vivem” nas ruas há mais de 10 anos; 18,1% estão em situação de rua há 5 anos ou mais.
– 8% são homens; 90,5% se identificam como pardos e pretos.
Questões de gênero, sexualidade, comportamento sexual e uso de drogas também foram exploradas. Dentre os entrevistados, mais de 75% possui documentos que são mantidos consigo.
Presente também no encontro, a delegada de Polícia Civil, Izabella Menegassi, frisou a relevância da discussão sobre o tema para entender as reais necessidades do público em situação de rua e como atuar para atendê-las.
“Hoje a Polícia Civil está presente neste evento não como órgão punitivo, mas sim como garantia de direitos. Dentre eles, a identificação civil, que é fundamental para que eles consigam acessar outros serviços. Estes dados também auxiliam os órgãos em diversas atividades e serviços, no caso da Polícia Civil, servem também no trabalho de ocorrência de desaparecimento, dentre outros”, explica.
CONDIÇÃO DE VIDA, TRABALHO E RENDA
A pesquisa aborda necessidades básicas como alimentação, acesso à água, higiene, saúde, histórico de prisão, escolaridade, trabalho formal e informal. Dentre os entrevistados, apenas 11,3% concluíram a Educação Básica. Conforme os dados, 68,4% já trabalharam com carteira assinada, e mais de 31% hoje fazem bicos para sobreviver.
O diagnóstico apontou ainda o envelhecimento das pessoas em situação de rua: 43,3% dos entrevistados têm 51 anos ou mais, sendo 9,4% acima dos 60 anos. Daí, como destacado no seminário, a necessidade de estratégias singulares direcionadas especificamente para mulheres e idosos em situação de rua.
Com base nos dados, a Secretária de Governança de Assistência Social, Letícia Godinho, “acredita que é possível planejar ações imediatas e a longo prazo, utilizando essas informações para melhorar as condições das PSR e servir de exemplo para outras cidades”.
Serviço:
Centro POP (Centro de Referência Especializado para população em Situação de Rua).
Av. Dr. Rubens Siqueira Maia, 125, Centro – Telefone: (31) 3406-7405.
Funcionamento: segunda à sexta-feira, das 8h às 17h.