Por Walter Biancardine (*)
Parece ser um fato imutável: sempre que instituições, pessoas ou políticos, que se auto-intitulam direitistas ou mesmo conservadores, resolvem mostrar sua suposta independência de pensamento e desvincular-se do nome “Bolsonaro”, acabam por sentar no colo da esquerda. E a dupla Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (Republicanos) não foge à regra.
Ex-adversários na disputa pelo Governo de Minas Gerais nas eleições de 2022, a dupla agora irá compartilhar o mesmo palanque, louvando a candidatura de Mauro Tramonte (Republicanos) para a prefeitura de Belo Horizonte.
A troca de carícias inclui a recente filiação de Kalil ao Partido Republicanos – anteriormente era filiado ao PSD, agremiação que abrigava nomes como Gilberto Kassab, Omar Aziz, entre outros – e o aceite do nome de Luisa Barreto (Novo) na chapa de Tramonte.
Mas este verdadeiro “ménage à trois” partidário não se deu sem mágoas e ressentimentos: o presidente do diretório de Minas Gerais do PSD, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, desejou que Kalil “seja abraçado com muito carinho pelos colegas bolsonaristas de seu novo partido”.
Na verdade a trajetória de Kalil foi inversa, saindo do colo da esquerda para – arrisco dizer, de modo oportunista – tentar mostrar-se conservador desde criancinha, ao abraçar uma legenda que, teoricamente, representaria tais ideais.
Já Romeu Zema obedece ao arquétipo do tradicional “vira-casaca”, anunciado ao título deste artigo opinativo: Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, não escondeu sua decepção com o governador minero ao afirmar que “contra o candidato de Bolsonaro, Zema se une a Kalil para derrubar Bruno Engler”. Tal afirmação expressa claramente a surpresa diante da casaca – ostensivamente virada ao avesso – vestida atualmente pelo governador de Minas Gerais.
Para completar, em recente entrevista à CNN, Romeu Zema disse que “Jair Bolsonaro seria o candidato natural da direita, nas eleições de 2026, e que o ideal seria que o ex-presidente representasse tal campo político na disputa”.
Longe de ser um elogio à JB ou defesa de ideias conservadoras, tal fala evidencia apenas refinada hipocrisia, visível para qualquer aluno de 8º ano e que interprete textos: em primeiro lugar, louvar como “ideal” um político inelegível – e que dificilmente terá sua pena revista com a devida isenção – é o mesmo que elogiar defunto em velório, pois todos nos tornamos pessoas excelentes após a morte. Por último, ao afirmar Bolsonaro como “candidato natural da direita”, Zema inclui-se automática e implicitamente em tal categoria e dispensa maiores considerações sobre nítidas ambições presidenciais deste governador.
Na verdade, a vida política de Zema sempre mostrou seu caminhar em cima do muro: filiado por anos ao Partido Liberal (PL, depois PR), largou a agremiação sem nenhum remorso, para filiar-se ao Novo na disputa pelo Governo de Minas Gerais. Se, em determinado momento, criou algum constrangimento ao seu partido por elogiar Bolsonaro em um debate na disputa das eleições de 2018, por outro lado não exibiu nenhuma timidez ao não comparecer em sua posse como Presidente da República, alegando a “indisponibilidade de voos” mesmo contando com aviões oficiais. E isto já deixava clara sua pretensão de tornar-se a tão mal afamada “terceira via” na corrida presidencial, postando-se ao lado de nomes como Dória e Sérgio Moro.
De fato, tal “terceira via” é mais conhecida como “o colo da esquerda” e nele hoje senta-se, gostosamente e junto com Alexandre Kalil, no apoio a um candidato estranho às conveniências de Jair Bolsonaro, da direita e do conservadorismo brasileiro.
A única coisa que ambos – Zema e Kalil – conseguiram com seu adultério político foi desagradar tanto à esquerda quanto à direita, um verdadeiro tiro no pé desferido pela dupla.
Veremos o resultado nas urnas.