Por Mário Plaka (*)
Esta semana o mundo assistiu ao espetáculo do poder em ação dentro do tribunal. Após os primeiros votos e interpretações jurídicas, a fala do ministro Luiz Fux brilhou como um raro momento de respeito à Constituição. Sua postura foi uma verdadeira aula de direito, cidadania e compromisso com a legalidade.
Mas não nos enganemos: esse julgamento não foi surpresa para ninguém que acompanha a realidade política. A condenação já estava decretada antes mesmo da sessão. O réu — que já cumpria prisão domiciliar, com direitos restringidos — apenas viu a sentença antecipada ser chancelada. O espetáculo serviu mais para legitimar o que já estava decidido do que para entregar justiça de fato.
O que preocupa não é apenas o ato jurídico em si, mas a lógica devastadora que se instala quando a democracia deixa de ser plena e passa a ser “relativa”. Democracia relativa não se sustenta: é como discurso vazio que termina com o narrador — mas não com a verdade.
Nessa engrenagem, não há meio-termo moral. Quem se diz neutro, já se alinha às trevas. A relativização da lei abre caminho para inversões grotescas: cidadãos assassinados viram estatística manipulada, enquanto criminosos são tratados como vítimas. Essa distorção corrói valores, destrói famílias e alimenta ideologias que desprezam a noção de certo e errado.
O poder concentrado em mãos de poucos é a droga mais viciante que existe. Corrói mais que qualquer entorpecente, destrói mais que qualquer vício. No poder, a essência de cada um é revelada: o que antes era apenas opinião vira ação concreta — quase sempre contra o povo, quase sempre em benefício do próprio grupo.
Por isso, a luta que enfrentamos não é apenas jurídica ou política. É moral. É ética. A justiça formal pode até cumprir protocolos, mas cabe à sociedade vigiar, refletir e resistir. Porque o poder sem freios não apenas corrompe quem o exerce: ele molda a sociedade à sua imagem e semelhança.
Que esse julgamento sirva de alerta. Justiça e cidadania não podem ser adiadas. O perigo maior nunca está no acusado em julgamento, mas na mão de quem exerce poder absoluto.
























