Por Walter Biancardine (*)
A Igreja já é, claramente, governada por quem a odeia. O maior inimigo da cristandade não são os que a combatem, mas os que a compõem – basta lembrarmos da Teologia da Libertação, as visões progressistas de seu clero e outras.
Falando em termos simbólicos para o grande público, que agora assiste a renúncia de Klaus Schwab à presidência do World Economic Forum no mesmo dia da morte do Papa Francisco e poderá, ainda, testemunhar – chocado – a eleição do tão afamado “Papa Negro” (eis que os prováveis sucessores são, em maioria, africanos) temos a conjuntura perfeita para que os “profetas do caos” das redes sociais provoquem uma onda de pânico generalizado e, por isso, urge que ponhamos desde já alguns pingos nos is.
Tal coincidência está carregada de simbolismo coletivo, ainda que não tenha um grama de substância objetiva no plano teológico. Mas símbolos governam o inconsciente das massas, e a política das percepções é mais eficaz que a política dos fatos. Examinemos, pois, com as lentes da sociologia simbólica, da psicologia das massas e da estrutura imaginária do Ocidente em ruínas.
O PAPA NEGRO COMO SIGNO ESCATOLÓGICO POPULAR
A figura do “Papa Negro” é um arquétipo escatológico. Ele representa, na imaginação coletiva, o ponto de colapso da ordem tradicional. É o momento em que o guardião do dogma se torna seu sabotador, e aquele que deveria manter a continuidade da fé a dissolve num caldo globalista, horizontalista e sentimental.
Se o próximo papa for negro — e tudo indica que um africano está no páreo, como Cardeal Peter Turkson ou, até mesmo o Cardeal Robert Sarah (este, ironicamente, um tradicionalista) — o simbolismo será imediato:
- Para o público progressista: será a coroação do “Novo Mundo”. Um sinal de reparação histórica, inclusão, pluralidade. Eles farão festa.
- Para os conservadores: será lido como o cumprimento de uma profecia, mesmo apócrifa. Um marco do fim. Um sinal de que a Igreja se rendeu ao zeitgeist.
O importante aqui não é a realidade do eleito, mas o mito que se formará ao redor dele.
A RUPTURA ENTRE APARÊNCIA E ESSÊNCIA NO CORPO ECLESIAL
Aqui está o ponto filosófico mais importante: como afirmei acima, a Igreja já é governada por quem a odeia, e isso não está na aparência, mas na substância das decisões.
O clero progressista não combate frontalmente o dogma — ele o dilui, o interpreta, o reinterpreta, o torna ambíguo. Como disse Joseph Ratzinger:
“A maior ameaça à Igreja não vem de fora, mas de dentro.”
A Teologia da Libertação foi apenas o primeiro vírus. Hoje temos sinodalidade relativista, inclusivismo sem verdade, “escuta do Espírito” que ignora a Escritura e a Tradição. Isso se reflete na pastoral, na linguagem, na omissão moral. A consequência é brutal: o povo já não sabe mais o que é ser católico.
O CONTEXTO SOCIOLÓGICO DO FIM SIMBÓLICO DO PAPADO
Agora, juntemos os pontos:
- A renúncia de Klaus Schwab ao WEF, o grande símbolo do globalismo tecnocrático, marca uma mudança de fase do projeto globalista. Saem os tecnocratas grisalhos, entram os populistas multiculturais. O novo rosto do poder certamente será identitário, tribal e emocional.
- A morte de Francisco será lida por todos como o fim de uma era ambígua: um papa de gestos revolucionários, mas de linguagem anódina. Um padre jesuíta que agia como diplomata do século XXI.
- A eleição de um papa africano, especialmente num contexto mundial polarizado, seria compreendida como a “revanche do Terceiro Mundo” — e também como um novo começo para a Igreja, pelo menos na aparência. Mas seria, simbolicamente, o último capítulo da romanidade cristã: o fim da linha visível do Ocidente eclesial.
A PSICOLOGIA DAS MASSAS EM ESTADO DE RUÍNA
A massa está confusa, fragmentada, ansiosa. Ela não busca mais verdade, mas narrativas que preencham lacunas emocionais – e sempre é bom dar a devida importância a este fato. Num mundo onde as instituições já não representam valores objetivos, cada gesto simbólico é interpretado como sinal profético.
A coincidência desses eventos (Schwab, Francisco, Papa Negro) cairia como dinamite num caldeirão mitológico que está fervendo há séculos e os “profetas” das redes sociais se encarregariam do resto. O “fim da Igreja” se tornaria trending topic antes do almoço.
A MORTE DO PAPA: UM ATO MÍTICO
Mais do que a morte de um homem, será percebida como a morte de uma forma de Igreja. A eleição do novo papa, num mundo em colapso moral, parecerá um reinício. Mas para os que veem além da aparência, será o selo da apostasia.
O próximo conclave não será apenas uma eleição. Será um rito de passagem simbólico entre a Igreja de Pedro e a paródia dela.
A narrativa está pronta. Falta apenas o ator principal.
AS PROFECIAS DO PAPA NEGRO:
Nostradamus – o oráculo que não disse mas parecia ter dito
Michel de Nostredame (1503–1566), o “grande bruxo do Renascimento”, é uma fonte farta de confusão. Seus Quatrains, escritos em francês arcaico, cifrado, metafórico, são um verdadeiro buffet de interpretações para todo gosto conspiratório.
Há sim alguns versos que foram interpretados – não por ele, mas por seus leitores – como se referindo a um papa de pele escura, de origem oriental ou africana, e a uma grande destruição da Igreja. Um exemplo clássico é este:
“Du plus profond de l’Occident d’Europe /
De pauvres gens un jeune enfant naîtra /
Qui par sa langue séduira grande troupe /
Son bruit au règne des Orients viendra.”
(“Das profundezas do Ocidente da Europa /
De gente humilde nascerá uma criança jovem /
Que por sua língua seduzirá grande multidão /
Sua fama chegará ao reino dos orientais.”)
Foi lido por alguns como uma previsão de um papa vindo das Américas (Ocidente), que encantaria com palavras e traria consequências catastróficas, ligadas ao Oriente – talvez o Islã, talvez a Ásia. Mas é vago, tal como um horóscopo de revista.
Em outro trecho:
“Le grand pasteur sera cité avec infamie /
Pour avoir succombé à l’hérésie des noirs /
Et la grande Cité tombera sous l’ennemi.”
(“O grande pastor será citado com infâmia /
Por ter sucumbido à heresia dos negros /
E a grande Cidade cairá sob o inimigo.”)
Aqui, algo mais sinistro: “hérésie des noirs” foi lida por uns como alusão a cultos africanos, por outros como influência de ideologias revolucionárias — muitas vezes associadas simbolicamente à “noite”, às “trevas” ou à “cor negra”, no imaginário europeu. Mas como tudo em Nostradamus, é mais espelho do leitor do que mapa do futuro.
O medo popular antigo – a queda da Roma Espiritual
Desde a Idade Média, havia um temor recorrente: o dia em que Roma se tornaria a Grande Prostituta do Apocalipse, e o papado se tornaria o trono do Anticristo. Não se falava ainda de “papa negro” com essas palavras, mas de um “papa herético”, “papa usurpador”, “papa do fim”.
Monges do século XIII falavam de um papa “traidor” que entregaria a Igreja às forças do Islã ou às seitas heréticas. Joaquim de Fiore, por exemplo, com seu esquema tripartido da história (Pai, Filho, Espírito), imaginava que viria um tempo de grande crise e transição na Igreja, com figuras ambíguas no trono de Pedro.
Na virada do milênio (ano 1000), muitos acreditavam que o mundo acabaria com a corrupção papal. Quando o papado foi para Avignon (século XIV), surgiram vozes dizendo que Roma já estava abandonada por Deus, e o próximo papa seria falso — ou até um “papa escuro” no sentido espiritual: oculto, escondido, subversivo.
O Papa Negro como arquétipo
Mesmo sem citação explícita, o “papa negro” é uma figura arquetípica que assombra o imaginário europeu há séculos. Ele é o inverso do Vicarius Christi: alguém que se veste como pastor, mas fala como o dragão (Ap 13). Sua “negritude” simbólica evoca:
- A noite espiritual
- A corrupção da doutrina
- A inversão dos valores
- A penetração de forças externas e “exóticas” na Cúria
Ele não precisava ser negro de pele – bastava sê-lo de alma. Isso, sim, aparece em medos e sermões desde o século IX. O monge Adso de Montier-en-Der, no século X, escreveu sobre um Anticristo que se infiltraria na própria hierarquia eclesial. E desde então, o temor do “anti-papa escuro” persiste.
Finalizando, para meu leitor:
- Nostradamus? Insinuações vagas, nunca explícitas.
- São Malaquias? Profecia de duvidosa procedência, mas com influência tremenda.
- Temor antigo? Sim, constante, principalmente a partir do século IX: o medo de que o sucessor de Pedro se tornasse instrumento do inimigo.
- Papa negro? É um símbolo. Um espantalho teológico do fim dos tempos. Um eco do medo de que a Igreja seja governada por quem a odeia.
Nunca é demais lembrar que a cúpula mundial conhece, melhor que nós, os medos que povoam nosso subconsciente – basta ver a Covid e suas consequências. Deste modo e coletando dados esparsos como a grande emissora norte-americana Fox News, elencando apenas negros como prováveis sucessores de Bergoglio, o leitor não deverá se espantar se sim, de fato, tivermos um Papa negro nos próximos dias.
O braço direito de Satanás – mais conhecido como “grande mídia” – aliado aos sedentos de notoriedade das redes sociais, farão com que o advento do Papa negro seja o som das trombetas do apocalipse sobre a humanidade quando, de fato, nada será além de um novo Vigário de Cristo.
Mas eles aprenderam que o medo é a melhor arma para governar o planeta.
E não hesitarão em usá-lo desta forma.