Walter Biancardine (*)
Às vésperas de mais um ciclo eleitoral, o teatro político brasileiro prepara seu novo espetáculo. Mas quem observar com olhos atentos saberá distinguir os atores dos autores, os peões dos jogadores. Em 2026, qualquer um que se apresentar como “candidato da direita” à Presidência da República deverá, obrigatoriamente, carregar consigo uma plataforma que não se limite a clichês sobre economia liberal, segurança pública ou reformas genéricas. O discurso vazio e domesticado não pode mais ser tolerado.
Há quatro pontos inegociáveis que definem se o candidato é genuinamente comprometido com uma mudança real ou apenas mais um boneco, articulado pelas engrenagens do sistema. São eles:
- Impeachment de ministros do STF e a consequente reformulação da Corte. O Supremo Tribunal Federal deixou de exercer seu papel constitucional para tornar-se um agente político ativo, que interpreta a Constituição como quem torce um código penal feito de borracha. A separação entre os poderes foi dilacerada. Quem não propõe uma reação institucional – note bem, “institucional”, pois o Executivo não pode propor impeachments – a tal quadro atual, pactua.
- Inclusão clara e inequívoca do conceito de “terrorismo” no Código Penal. O país precisa nomear o inimigo: há organizações criminosas e ideológicas que atuam com métodos terroristas – sequestros de instituições, intimidação de opositores, instrumentalização da justiça. Fingir que isso é “atividade política” é colaborar com a destruição da ordem.
- Classificação de facções como o PCC, o Comando Vermelho e o Foro de São Paulo sob o mesmo enquadramento jurídico. Não se trata de exagero retórico. Há entre eles vínculos logísticos, financeiros, estratégicos. A separação entre o crime comum e o crime ideológico está cada vez mais dissolvida. Reconhecê-los como faces de um mesmo projeto de poder é imperativo.
- Revogação imediata de todas as “interpretações” criadas e impingidas pelo STF como se fossem leis. Isso inclui a absurda regulação das redes sociais feita por via judicial, à revelia do Legislativo e com ostensiva violação de liberdades civis. Um Judiciário que legisla é, na prática, um regime de exceção disfarçado de normalidade.
Sem a presença explícita e enfática desses pontos numa plataforma de governo, o tal candidato deve ser considerado um fantoche, um adestrado do sistema, ainda que venha travestido de técnico competente, moderado civilizado ou militar disciplinado. Nome bonito não lava mãos sujas.
E aqui é preciso dizer com todas as letras: Tarcísio de Freitas, embora eficiente como gestor, tem sido nitidamente afagado, tolerado e até promovido pelo consórcio de forças que sufocou a verdadeira direita nos últimos anos. Sua ascensão “pacífica” é um sinal de que foi aceito como figura útil – e, talvez, como reserva técnica do regime.
A direita brasileira não pode mais se deixar seduzir por versões domesticadas de si mesma. Ou enfrenta o sistema – e seus tentáculos togados, partidários e criminosos – ou continuará servindo como figurante da peça que outros escreveram.
A hora é de exigência, não de entusiasmos vazios.