Por Walter Biancardine (*)
Toda a política brasileira encontra-se, atualmente, refém de um sistema partidário que, longe de representar ideais e valores políticos, converteu-se em mero mecanismo mercadológico de interesses particulares. Os partidos, originalmente concebidos como instrumentos de organização ideológica e de representação popular, transformaram-se em meras “lojinhas para negócios”, servindo prioritariamente a elites políticas e econômicas, que negociam seu poder em detrimento do bem comum.
É quase redundância afirmar a necessidade de primarmos pela ordem, transparência e moralidade pública. Nesse sentido, o brasileiro deve tomar consciência de que o atual sistema eleitoral, baseado em uma estrutura partidária corrupta e monopolizadora – quase “empreendimentos” comerciais – impede qualquer renovação política genuína. A dependência dos partidos para candidaturas inviabiliza a ascensão de lideranças verdadeiramente autônomas, comprometidas com valores fundamentais como a soberania nacional, a moralidade pública e a representação legítima da sociedade, sem a necessidade de “abaixar a cabeça” para os “caciques”, dirigentes partidários – ou melhor, empresários donos dos mesmos.
A primeira e mais urgente reforma que deve ser exigida é a contagem pública de votos, e isso é fora de questão ainda mais se levarmos em conta as recentes revelações da investigação norte-americana sobre os abusos da USAID.
O sufrágio universal é um dos pilares da democracia, mas sem um sistema de apuração transparente, a confiança no processo eleitoral torna-se, obviamente, comprometida e sem possibilidades de ser acreditada perante a opinião pública. Os segredos da urna eletrônica, sem possibilidade de verificação independente ou auditorias, gera somente fraudes e manipulações tal como apontam as investigações da já citada USAID. A transparência é, portanto, um princípio inegociável para garantir a legitimidade das eleições.
Além disso, é imprescindível exigirmos o direito à candidaturas independentes, sem a obrigatoriedade da filiação partidária. A exigência de um partido – balcão de negócios – como intermediário entre o cidadão e o processo eleitoral subverte a essência da representatividade democrática. Um indivíduo capaz, íntegro e disposto a servir ao país não deve ser obrigado a se submeter às amarras venais e aos interesses escusos das legendas, que impõem acordos espúrios e comprometem a soberania política do candidato.
Portanto, se há um caminho para a verdadeira mudança política no Brasil, ele necessariamente passa pela contagem pública de votos e pela candidatura independente. Somente quando a política for resgatada de seu sequestro pelos partidos e devolvida ao povo, será possível restaurar a ordem, a moralidade e, quiçá, algum espírito democrático para a nação.