Para os mais observadores – ou para aqueles que não são brasileiros típicos e possuem um QI acima de 83 – não faltam exemplos diários e incessantes que ninguém está, na realidade, se incomodando com a atual situação do país.
Uma sequência absurda de feriados – uma semana inteira por conta de Sexta-feira Santa, Páscoa, Tiradentes e Dia de São Jorge – é seguida, logo depois, por mais um feriado: o Primeiro de Maio, data – fingem esquecer – comunista.
E viva a vagabundagem pois “trabalhamos demais”, o Brasil tem uma economia riquíssima que nos permite tais descansos e podemos gastar todos os milhares de dólares, que brotam espontaneamente em nossas contas bancárias, torrando-os em viagens que engarrafam estradas, superlotam balneários e causam pandemônio onde quer que a horda turística – curiosamente com um padrão educacional e civilizatório de Bolsa-Família – vá, não deixando pedra sobre pedra nem, tal qual locusta, a grama viva.
No Rio de Janeiro, a totalidade dos gays de todo o planeta acampa, atualmente, à frente do Copacabana Palace para adorar e acender velas – se ficarem só nisso, estará ótimo – para a satânica Lady Gaga, enquanto avionetas rebocadoras de faixas (aquelas, de propaganda) anunciam ao mundo a terrível escassez de ativos naquelas paragens. Por certo, ser gay deve ser alguma espécie de Pós-Doutorado para ter acesso a remunerações astronômicas e a horários de trabalho extremamente elásticos – ao nível de presidência de multinacionais, que os permite tais extravagâncias.
Somemos os fatos acima à realidade do cidadão comum, que tem gasto seus dias criticando a vigarice explícita do pastor-mirim (recentemente calado pelas togas todo-poderosas) e o medíocre desempenho da atriz Débora Bloch, no papel da irrepetível Odete Roitman, e teremos bons indícios das razões que impelem os youtubers “didireita” a nada pretenderem além da retirada do PT do poder – para eles, é o que importa.
Sim, para eles e para a esmagadora maioria do povo brasileiro, que deseja apenas ver seu ego em Brasília e não um real, profundo e eficaz conserto do país – pois este mesmo cidadão teria, necessariamente, de começar a trabalhar sério e se portar à altura daqueles valores e princípios que, um dia distante, já bradou como seus.
Não há crise, enquanto as estradas permanecerem lotadas – entupidas, é o termo – em cada feriado.
Não há inflação, enquanto o cheiro de churrasco, seja em feriados ou finais de semana, não deixarem de empestear a vizinhança.
Não há carestia, fome e desemprego enquanto passarmos em frente a um boteco, em plena terça-feira e em horário de trabalho, nos deparando com hordas de homens aptos ao trabalho, enchendo a cara e rodeados por um séquito de garrafas de Glacial, Itaipava e outras.
Pobre de quem pensa que vivemos uma crise político financeira: a crise que vivemos, meus caros, é muito pior. É uma crise civilizacional.
E o buraco é muito, muito mais embaixo.