Por Walter Biancardine (*)
Anos atrás, havia uma expressão que cairia bem agora: “abafa o caso”. Tal é a proposta que faço, que “abafemos o caso”, viremos a página e nos unamos em direção às manifestações do dia 16 de março, pois tudo o que poderíamos mostrar em termos de desorganização, guerra de vaidades, aspirações políticas egoístas e solertes tentativas de infiltrados, nós já revelamos – “abafa o caso”!
Todas as pautas – absolutamente todas – são válidas e pertinentes, pois é evidente o estado de anomia institucional que o Brasil vive; escolher uma única como bandeira resulta na já citada guerra de vaidades, na tentativa de aspirantes à carreira política se sobressaírem e ainda dão preciosa chance, aos infiltrados de plantão, para que provoquem uma desunião maior – e tudo isso pela arrogância de ditar (sim, ditar, de onde vem o substantivo “ditadura”) direções, uma única pauta-chave, e consagrarem-se como “lideranças”. Entretanto, em respeito aos estudos de Gustave Le Bon e seu precioso livro “A Psicologia das Massas”, é aceitável que tenhamos uma bandeira única e, para tanto, sugiro: que tal um “#ForaTudo”, seguido de um “#ForaTodos”?
Obviamente tal sugestão é limítrofe entre uma certa irritação pessoal e a simples brincadeira, mas o ponto o qual desejo chegar é que escolhamos uma palavra de ordem neutra, pois se formos às ruas endereçados a um único motivo, ditado por algum novo “líder”, seremos obrigados a fazer umas duzentas passeatas – só esta semana – para que possamos abranger tudo. Por outro lado, a nos fiarmos apenas nos dizeres de Bolsonaro, a apontar-nos uma pauta, muita gente discordante ficará de fora e ainda poderá criar empecilhos, desmoralizando e esvaziando o movimento.
O que tenho de mais precioso ofereço aqui, nestas páginas: esqueçam pautas, palavras de ordem e parem de se comportar como os cachorrinhos de Pavlov, abanando o rabo a cada soar da sineta. Não precisamos de tal tipo de condicionamento, a revolta é poderosa e comum a todos e, por tantos que são os desmandos e arbitrariedades, repito, é perda de tempo – mais que isso, é prejudicial e divisionista – nos engalfinharmos na escolha das malditas pautas. Vá às ruas e grite, simplesmente e a plenos pulmões: “já chega!”, e que cada um leve uma bandeira com sua indignação.
Se pretendemos demonstrar que tal movimento é orgânico, fruto de uma revolta legítima e popular, tal tipo de imposição apenas nos pintará como mentirosos, pois facilmente apontarão algum “líder” a nos conduzir. Eu, pessoalmente, aprecio Bolsonaro e pretendo novamente votar nele, caso consiga se tornar elegível. Mas ele não é meu dono, não o obedeço cegamente e confio muito mais em meu bom senso e discernimento os quais, felizmente, costumam coincidir com as atitudes do nosso ex-presidente.
Isso posto, esqueçam as pautas e ignorem aqueles que pretendem nos dirigir, pois este é o sintoma mais claro das ambições políticas – ou divisionistas – de cada um deles.
A democracia é o sistema político mais trabalhoso que existe, para o povo: ele nos obriga, como patrões, a estarmos constantemente fiscalizando e corrigindo os rumos de nossos empregados – procuradores – e nunca é demais lembrar que é o olho do dono que engorda o boi.
Esqueça as pautas, vá para as ruas, grite e proteste.
Não tenhais medo.