Por William Saliba (*)
Nos últimos anos, Lula tentava reconquistar terreno na arena internacional, engajando-se em fóruns globais como G20, Brics e COP, e adotando uma postura de diplomacia não alinhada, buscando equilíbrio entre ocidente e emergentes, como avaliava o Financial Times. Essa estratégia, contudo, mostra agora grande desgaste. A revista britânica Economist sinaliza, em artigo publicado neste domingo (29/06/25), que sua imagem de “construtor de pontes” perdeu força diante de crises globais – como a guerra na Ucrânia e o conflito Israel-Palestina.
De um lado, os laços com China, Rússia e países esquerdistas da América do Sul são valorizados pelo seu eleitorado por não alinharem o Brasil automaticamente ao caminho ocidental. De outro, tal postura vem desagradando países como os EUA e alguns europeus, que esperavam posição mais incisiva. Esse vacilo reduziu o peso diplomático do Brasil, fazendo o país “bater abaixo do seu peso”, como avalia um ex-diplomata.
Ainda segundo visão da Economist, internamente, a mesma linha estratégica de equilíbrio e independência tem sido alvo de crítica. Em fevereiro, a aprovação de Lula caiu para apenas 24 %, de acordo com alguns institutos de pesquisas brasileiros. A inflação de alimentos – quase 8 % em 2024 – tem cessado o apoio da parcela mais vulnerável dos eleitores de esquerda do Brasil, segundo a Associated Press.
Essa insatisfação aproveitada pela direita brasileira, somada à falha na comunicação política — especialmente em ações como a mudanças Pix — compromete a imagem do governo. A tentativa de taxar operações financeiras acabou desacreditada e revertida por pressão popular e boatos, aponta o Washington Post. Já a violência urbana segue como principal preocupação da população, alimentada por casos cotidianos de criminalidade.
Esses fatores — desgaste interno e perda de protagonismo externo — estão interligados. Uma liderança doméstica fragilizada reduz legitimidade diplomática. Ao mesmo tempo, a queda no prestígio internacional encalacra a narrativa de que o Brasil voltou a ter voz ativa global.
Com a realização do Brics no Rio de Janeiro, e a presidência do G20 em 2023–24, esperava-se que Lula reforçasse o multilateralismo e valorizasse a imagem do Brasil em meio ao turbulento contexto mundial, conforme citado pelo Financial Times. Mas a fragilidade política interna compromete a coesão necessária para converter tais oportunidades em resultados concretos.
Em resumo, a diplomacia brasileira está em xeque: a opção por neutralidade não é totalmente eficaz. Países esquerdistas da América Latina aplaudem, mas aliados históricos, como os Estados Unidos e Europa, veem isso como fuga de responsabilidades, limitando a influência brasileira em grandes questões.
A base doméstica de Lula está fragilizada: inflação, criminalidade e confiança abalada minam o apoio político, reduzindo capital para ações decisivas tanto internamente como no exterior.
Lula que já foi rotulado pela mídia internacional como “o político mais popular do mundo”; hoje, convive com índices inéditos de desaprovação.
A Primeira-Dama, Janja, figura cada vez mais comentada, agrava o desgaste de imagem de Lula. As intervenções dela como crítica ao TikTok em jantar diplomático na China, causou desconforto junto a Xi Jinping, levantando a questão dos limites do papel institucional que exerce. Tal exposição pública, se mal calibrada, corrói ainda mais o já desgastado prestígio de Lula.
O Brasil já não é visto lá fora como um anão, mas como um micróbio diplomático.