As novas comédias do Planalto Central

Descoberto o antídoto contra as sanções americanas

Hoje, são dois comentários, que parecem enredos de uma série cômico-distópica em que Brasília é o centro do mundo — ou, ao menos, do seu próprio delírio.

Primeiro Ato: A Invasão do Dragão de Plástico



Prepare-se, patriota: a China está chegando, não com tanques, mas com cartões. A UnionPay, maior operadora de cartões do planeta (segundo ela mesma, claro), está desembarcando no Brasil. E não, não é apenas uma jogada de mercado — é uma operação de guerra. Um antídoto! Sim, você leu certo: um antídoto financeiro contra a sanção com o temido Global Magnitsky Act, que Donald Trump – o vilão da vez na cabeça de certos iluminados – estaria prestes a usar contra nossas “autoridades”.

Pelo enredo, o Brasil virou a nova Cuba e Trump virou o caçador de comunistas tropicais. E para proteger os camaradas da pátria, nada melhor que um cartão chinês com cobertura internacional e, de quebra, militância embutida.

A operação está sendo encabeçada pela fintech Left — que, ironicamente, se diz defensora da “liberdade econômica” enquanto propõe redistribuição automática de receita para movimentos sociais, como o MST. Uma mistura de Robin Hood com QR Code. Você compra um pão e, sem perceber, está financiando a próxima invasão de uma fazenda. Tudo muito moderno, muito… muito social.

“O sistema foi pensado para apoiar quem promove transformação social”, diz o financista José Kobori, gestor do fundo no Brasil. Tradução livre: transformar o cartão de crédito em arma política para contornar sanções de um futuro apocalíptico com Trump e o Brasil de novo na lista negra da liberdade.

Segundo Ato: A Nova Heroína da Revolução Digital

Agora, o momento “comédia de ontem”, terça-feira: entra em cena Bia Lula, a neta do presidente, em sua épica cruzada contra o imperialismo americano. Munida de um vídeo e muita indignação, ela foi às redes defender o Pix como se fosse a nova Petrobras.

Segundo a jovem oradora, Lula — sim, ele — estaria “enfrentando Trump para manter o Pix gratuito”. Sim, o mesmo Pix criado por técnicos do Banco Central em 2020, sob a gestão do… Bolsonaro. Mas, na lógica da narrativa, isso é um detalhe dispensável. O que importa é o roteiro: Lula virou o cavaleiro digital do povo brasileiro, enfrentando sozinho a ofensiva do Tio Sam contra o botão de pagamento instantâneo.

“Eles querem nos quebrar”, ela disse, com os olhos marejados (ou não). “Nos escravizaram por 500 anos!” — e tudo isso, claro, por culpa do Pix. Aparentemente, a nova estratégia geopolítica americana é destruir o Brasil via tarifa bancária.

Bia ainda cravou que, se fosse Bolsonaro, “já teria entregado tudo de bandeja”. Porque nada é mais simbólico da submissão colonial do que permitir que os americanos nos cobrem taxas nas transferências.

O curioso é que, ao falar de Pix, Bia parece acreditar que o sistema pertence à família. Não à população, ao Banco Central ou à realidade, mas à sua árvore genealógica. O patriarcado revolucionário se manifesta até nos apps de pagamento.

Com essa retórica épica e um texto digno de panfleto da UNE de 1979, a neta presidencial inaugurou um novo capítulo do lulismo performático: o Pix do Povo, a luta contra o imperialismo financeiro e a resistência pelo débito instantâneo.

E o Oscar vai para…

No fundo, tudo isso seria só risível, se não fosse trágico. Porque quando o poder se mistura com alucinações ideológicas e interesses escusos, o país inteiro vira refém de narrativas absurdas — como a de que um cartão chinês irá “salvar” o Brasil de sanções, ou de que o Pix é um campo de batalha entre Lula e Trump.

A cada dia, fica mais claro: Brasília não é governada. É roteirizada.

(*) William Saliba, diretor do Carta de Notícias, é jornalista profissional há 55 anos e detentor de vários prêmios no setor da Comunicação.
Ah!… o autor tem dois prêmios em festivais do cinema brasileiro nos anos de 1980. De verdade, não é ficção!

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